16.12.11

Desabafo (ou Lettre à Lucas)

Há dias em que escrevo com a mesma agressividade com que bato. Ah! Pois agora faço aulas de boxe. Você foi embora em junho... não poderia saber. Em geral é quando eu me sinto agredida.Hoje é um desses dias. Na verdade é noite aqui. São 23h15 de uma sexta-feira.. não estou na Lapa como outrora.. nem onde gostaria de estar.

Acabo de atravessar a porta do meu apartamento (que, bem sabemos, nunca foi meu.. e digo-lhe, não sei mais por quanto tempo o será) aos prantos quase. Estou vindo "de l´apéro" de uma mulher que frequenta a sociedade francesaradicada no Rio (figure: ela é amiga da Bebel Gilberto, do Vincent Cassel e do Claude Troisgros! Foi sócia da "Yes Brasil" e conheceu figuras como Cazuza e outros..) Mordo os lábios para não chorar. Não sei o que me doma esses dias.. não me sinto eu e,portanto, não me sinto melhor também. É o nosso inferno astral que chega. Sempre me agradou o fato que temos aniversários tão próximos e que tendo um olhar sobre o mundo muito próximo ao meu pudesse me entender e me acolher...fosse para as alegrias, fosse para as tristezas. (Onde será e o que será que você está fazendo agora, hein?). Eu não queria ser densa assim, como diria uma amiga minha parodiando uma mãe de amiga dela "as coisas estão mais na superfície". Mas eu sou.. e meu sentimento é forte.. tão forte que às vezes há quem não consiga o pegar no colo nem por uns instantes. (Se bem que isso é só mais uma expectativa minha... que as pessoas nas quais conto pudessem fazer isso. Conto mesmo comigo.. mas.. e se eu não estiver bem sequer para mim mesma.. em quem contar?).
Expectativas estragam a vida. E não tê-las?

Há também o fato que os franceses .. a minha família hospedeira esteja aí e à mercê das expectativas deles eu fico.. e fico mal, pois em plenas férias de verão a me despedir dos 20 anos..tudo o que menos quero são perguntas, ssão observações, são horários e obrigações. Por um outro lado.. por que mesmo que eu me submeto à isso? Por gratidão.. já nem sei mais.. Talvez há quem se deixe ser agiotado por afeto...E os agiotas apenas se aproveitem das situações.
Detesto ter que ouvir as mesmas hitórias com as mesmas intonações...com as mesmas intenções.. que vez em sempre machucam. Chega o tempo de mudar. Chega o tempo de eu mudar... mais uma vez... ainda que meus problemas venham comigo. Falando em problemas..as coisas na minha família não andam muito bem, mas não quero entrar no assunto.

Te invejo por que da última vez que nos falamos me contastes que passaria o Natal sozinho. É só mais uma grande convenção mesmo... De qualquer maneira vou lhe revelar um desejo: quero um Natal com minha família eleita..sim, eleita pois será minha família de amigos. Eu gosto de receber...eu os vejo (você e mais uma dúzia de bons amigos meus) a chegar em minha casa com vinhos ou bebidas..eu estarei morando em Nova Iorque.. nos rimos, implicamos uns com os outros, nos ajudamos com os pratos e não haverá bbnecessidade de tantas tradições, nem de pratarias ou teatros. Caminhamos no frio agradável depois a ver as luzes da cidade.. e depois adormeço. Não lembro mais como continua...

Emfim.

Sinto Saudades e sinto-me só. Nem alegre, nem triste.. só.. e perdida, mas plena. Me explique isso, por favor?

2.11.11

Pela Primeira Vez

Conjugar: v.t. Unir, juntar: conjugar esforços, estar em sintonia. Eu a receio e a anseio e desejo, essa alegria discreta que me invade e implode forte e possante por que pela primeira vez conjugo amor.
E me surpreendo:

eu amo!(?) Eu amo,
tu amas,
ele (me) ama...
a gente (se) ama.

20.9.11

O sinal do absurdo

Toca a primeira campanhia. Do lado de fora,à espera, ouve-se um agito interno, vozes, o arrastar de alguns móveis, passos firmes porém lentos. É o cochicar das cochias. Segue a segunda campanhia anunciando o começar da encenação há anos em cartaz (adimira-se que há quem pague para ver). Todos a postos, luzes, os passos se aproximam e, no terceiro sinal... é a porta que se abre.

A senhora atràs da porta sorri um sorriso impecavelmente ensaiado e as palavras trocadas, cordiais, finas, são as mesmas da semana passada. Embora a cena lhe seja familiar e a próxima previsível, a criança aguarda que lhe digam para entrar. É tudo muito formal, o script rígido, os erros, quando perdoáveis, abafados; cada um com o seu papel designado sem precedentes, sem participação, sem predisposição . É assim e pronto. Ela, submetida, retribui com as mesmas frases prontas, veste seu melhor sorriso de espelho e põe-se na sua marcação.

O cenário, motivo de orgulho, é o mesmo. Ninguém questiona sua funcionalidade: como pode alguém adorar um ambiente e jamais se permitir estar lá? Está intocado. A prataria toda disposta na mesma ordem, a tapeçaria estendida, as almofadas perfeitamente arredondadas; as paredes foram pintadas no começo do ano. O assunto é este de corte e de corte. Não há improvisos, assim evitam-se discussões; não há imperfeições, assim evitam-se tabus. A conversa assume tom de monólogo... e segue-se a repetição.

Não à toa surgiu um dia o teatro do absurdo. Por que as vidas são da platéia e deixemos as personas para os palcos.

28.6.11

(Re)Descoberta

Meus olhos acompanham plácidos a cidade que se torna pequena abaixo do grande pássaro de aço branco que me carrega para (não tão) longe dali... E é meu pensamento que voa. Disperso, dando cambalhotas no ar entre coisas e pessoas que se passaram nos últimos dias, semanas... meses.Foram meses mesmo...?

Será que eu estava dormindo? Por que a sensação que tenho é que aquele vôo me despertou. Levanto-me, sorrio de volta para a mulher a minha frente balançando a cabeça como quem diz obrigada...Passo pelo saguão.. Encontro a saída ( eu sempre encontro as saídas..). O homem que dirige o carro que me leva diz algumas coisas e eu respondo monossilábica..distraída pelas luzes e pelas minhas expectativas.

Minutos depois,ouço vozes familiares. Bate um conforto. Me abrem a porta e e eu a atravesso como quem adentra o passado. Um passsado lúcido e não saudosista. Eu precisava daquilo, penso. Eu precisava daqueles abraços, das palavras trocadas, de elogios, de silêncio cúmplice (daqueles que só muito "conhecer do outro" é capaz de proporcionar) e de algumas "broncas" e observações que me chamassem de volta a mim.

Agora volto.Volto e vejo que rever antigos amigos é como um ritual de preservação do ser.(Etendendo ser como a essência). Melhor ainda se acrescido à esse ritual houver um cenário diferente do habitual... por que mesmo as coisas conhecidas podem eventualmente ser descobertas por novos ângulos...
Foi isso que aconteceu. Eu fui àquele lugar, que poderia muito bem ser qualquer outro do planeta, inclusive a minha casa, para resgatar sem pressa algumas coisas minhas.. a minha "interessância" - como diria uma outra amizade minha...

Aquela era eu. Ela (é) parte (do) hoje. Aquela de muitas caras e bocas.. e poucas palavras ditas, muitas pensadas. De olhos atentos.. bem abertos.. como a lente da minha nova câmera à captura do mundo, do todo.. de tudo que eu puder saber e conhecer e sempre e mais.Desde esquações à canções, psicologia,poesia e gente.
E meus lábios desenham um sorriso não mais cansado e forçado, mas que presenteia com graça momentos e pessoas que sabem-lo provocar. E quem vê beleza em mim sempre disse que foi essa sede (des)pretensiosa de me prender e me partir no e do mundo que me fez bela a meu modo.
A cidade de repente virou num sítio à ser explorado.. cheio de signos e significados e histórias e esquinas... cada uma liderando à um abismo de ar quente em meio ao frio, que ao contrário da queda, proporciona a leveza (insustentável?). Sim, talvez, mas renovável..certamente.
Não mais me preocupo tanto com o que podem pensar dos meus defeitos. S e J me lembram disso e brigam comigo se eu sequer esboçar dúvida quanto à segurança de ser gostada como eu sou e cair na tentação de querer me mudar para os outros ou seguir manuais genéricos do senso comum genérico que tenta impor previsiblidade às coisas mais imprevisíveis. Isso me lembra que muita gente acha que prever é assegurar.. quanta tolice... Ou talvez não.. talvez eles me achem tola quando eu decidi, lá atràs, que as minha grande segurança seria aquela de PODER ser insegura,caso eu precissasse.... ("por que todo mundo o é").

Me invade o peito uma gratidão enorme pela minha vida e pelos coadjuvantes.. Essa história aqui narrada - que mais é um fluxo de consiência do que uma história - não tem um fim certo.. não é um roteiro.. mas tem uma grande moral: a de não me acomodar, comigo, com os outros, com as insatisfações, com a cidade, com os desejos.. com a determinação...

24.6.11

Nossos Tempos

Férias parciais. Quero o meu tempo.. quero sentí-lo, percebê-lo, respeitá-lo. Quero escrever(mais), ler um livro, sair de casa, andar sem direção descobrindo as ruas como se as visse pela primeira vez em muito tempo.. quero muito tudo sem pressa e esquecer que horas são sem me preocupar. Esquecer que dia é da semana e fazer do sol o meu parâmetro...

Observo que nossos tempos andam regidos pela urgência. Essa senhora intrometida e histérica que apressa tudo em nossas vidas. Há momentos em que e presença dela até não é de todo ruim, mas em boa parte acho que ela só atrapalha. A urgência é um alarme,um despertador que rompe com o primeiro tempo íntimo de cada um, o tempo de sono.O tempo dos corpos. Até aí tudo bem, posto que impõe disciplina àqueles que por vontade própria provavelmente ficariam entregues à inércia, à preguiça, ao ócio de um leito ou de alguma outra atividade mais prazerosa que as obrigatórias por coersão.

De onde eu vejo, o problema maior é quando ela adentra outros tempos nesses nossos tempos. Há coisas que simplesmente não podem ser apressadas, a começar: o escrever, o descobrir, o conhecer, o saber, o fazer artístico, o fazer erótico...o sentir. Viver, de forma geral, não pode exigir pressa, ânsia nem exatidão temporal ou etária.(Temos um tempo comum - aquele nos nos permite conviver e respeitarmos uns aos outros e as instituições e, onde ele termina começam nossos tempos próprios - cada um tem o seu. Sintonia seria, assim, quando dois ou mais tempos próprios convergem em um só). Caso contrário um corre o risco de queimar suas etapas (motivo pelo qual sou avessa aos planos à longo prazo..com datas e idades mensuradas).
Penso muito nesse contexto, e com certo pesar, nas crianças. Talvez porque elas são mais passíveis de sofrerem influência do grupo.. de repetirem comportamentos para os quais ainda não estão prontas.

Penso também na juventude... a juventude, em qualquer tempo histórico, sempre foi marcada, entre outras coisas, pela pressa em viver. Qual é a nossa?! Sequer sabemos com exatidão aonde vamos, tampouco o caminho certo.. então,para quê tanta pressa?! É como se estivéssemos no prelúdio e a verdadeira canção só começasse aos trinta e com ânsia de chegarmos lá, apressássemos o passo e atropelássemos o compasso. É dançar uma valsa 3/4 em ritmo de rock. Para quê?! Para nos fazermos notados?
Chego, aqui, onde pretendia: associar essa pressa em viver com a necessidade incessante em se mostrar que está vivendo.. e não há maneira mais prática e paradoxal de fazê-lo do que por meio de vitrines pessoais em redes sociais.

Se é verdade que o outro é espelho de nós mesmos, confirma-se o fato de que precisamos do outro (em maior ou menor escala) para nos convençermos de nossas realidades. Aplique a isso a moralidade da urgência e voilá: chega-se à tendência da vida à mil por hora, do "vivendo intensamente"... Acontece que as mídias sociais não representam a realidade no plano real, e sim um plano paralelo.. uma realidade muitas vezes filtrada e forjada. Alí - você só expõe de você as partes que desejar. (Ninguém mostra, deliberadamente, seus defeitos, seus piores ângulos, suas fraquezas.. seria a negação do "self-promotion"!).

Sempre que eu vejo comentários e legendas de fotos nesse etilo "minha vida é uma festa", crio minhas ácidas dúvidas em tom crítico: "Será? Será mesmo que a vida desta pessoa é tão intensa, frenética e repleta?". Se fosse na intensidade e velocidade nas quais ela descreve provavelmente ela não teria o tempo de parar para fazer uma exposição daquilo, porque, justamente, estaria tomada pela intensidade louca de sua vida. É um tanto triste pensar que as pessoas estão se tornando mais interessantes em outro plano - protegidas por telas-escudos, sem se permitirem serem conhecidas de fato... até porque como é tudo muito rápido.. fica difícil acompanhar as inúmeras e constantes mudanças.
A moralidade da urgência vende, é "in".. "cool". Todo mundo quer ser comprado antes de perecer então(?). Ou melhor, ninguém quer perecer... Perecer, bilogicamente falando, é envelhecer e envelhecer definitivamente já está "out-dated". Agora isso é objeto para outro post e eu já estou embaralhando demais meus pensamentos...

26.4.11

Seria suportar sucumbir?

E então... te fizeram crer que tinha o certo e o errado? Esqueceram dos percalços? Convençeram-te a seguir aqueles caminhos? Te coibiram a ser como projetaram? E,diga-me,te deram segurança e aprovação em troca? Presentearam-te com a falsa garantia do futuro? E você,se conformou com um novo tipo de conforto?E apresentaram copanhias mudas,irretocávais? E só quando eles te viram é que você pode então existir?

E aí,te vestiram com suas marcas? E se intrometeram no repartido dos teus cabelos,nas medidas do seu corpo e te disseram que era pela sua saúde? E de repente tudo que era bom se tornou ilegal, amoral ou engordativo? Sensibilidade virou sinônimo de fraqueza? E os transparentes se tornaram otários?

Te ensinaram a repetir seus refrões,seus bordões? Repetistes? E te ensinaram a dissimular?Dissimulastes? E te obrigaram a se mostrar feliz sempre? E te redefiniram até o irredutível o conceito da palavra "sucesso"? E reconstruiram o que é a beleza e a feiúra,o amor e o ódio,o real e o ideal? Marcaram teus passos? E te negaram escolhas,estados e espírito? E te fizeram temer o não contemplado por eles? E a partir de determinado momento eles se fizeram desnecessários e quem se convençeu de tudo foi ti em tom de autojustificativa?

E você,por medo,sucumbiu a tudo isso? Por medo de sobrar? Por medo do amanhã? E você comprou essas verdades pela metade? E pagou quanto por elas? Qual foi o (teu) custo? E,sabe..o amanhã chegou. E chegou tarde,amor - a garantia expirou.

10.4.11

A Carta-decreto dos dezessete

Aos dezessete, quando eu parti, já era uma pedra pronta.. bruta ainda, mas essencialmente pronta. Aos dezessete, ao partir, fui presenteada com uma carta que resta, ainda e sempre, a minha melhor descrição. Aos dezessete, precisei estar perdida para depois me reecontrar (sempre com alguma mutação, também pudera.. a gente evolui).

Hoje, qualquer perda parcial é prerrogativa para ler novamente a carta.

"Então... Para dizer alguma coisa... Estou eu, aqui, praticamente sem palavras, numa dessas ´tardes quentes de plantão´ no Dinas. Mas, sem palavras, também nos encontramos, de diferentes maneiras, com diferentes afinidades.
Também tenho desses seus silêncios cúmplices. Também não digo se não quero, não vejo para não sofrer; para brigar conosco tem que ser insistente.
Foram muitas cenas, amiga, ... Também sumo por uns tempos, feito você, não sorrio sem motivos, não me justifico se não vale a pena. E é assim que transitamos pela vida. Não gostamos de tantas críticas, mas também não suplicamos o elogio. Desejamos assim, de graça, o que a naturalidade da vida tem para nos presentear: ao contrário do comodismo conformista, uma maturidade tranquila e (im)prudente que briga todos os dias com a ansiedade para poder existir.
Tanta identificação e carinho, P. Obrigado por essa companhia e esses abraços bobos que nos fazem rir quando nos vemos. Saudades sempre.
Com amor e carinho.
Do seu amigo,
Marcos Menezes (Baiano)"

9.4.11

Há tempo(?)

Não, não há tempo! É atempo.

3.4.11

Da intimidade (a) dois

Não é a primeira vez que desejo discorrer sobre a intimidade e deixo claro desde já que não se trata de um tratado (nunca pretendi deter nenhuma verdade que não as minhas.. nem tê-las como absolutas). Um analista provavelmente diria que eu só pude alcançar minha vontade quando (enfim) me permiti - e aos outros - ter intimidade. Quero crer, contudo, que intimidade não é planejada.. de repente nos damos conta dela..Não precisa fazer sentido para quem está fora.. nem ser bem estruturada na sua forma.. por isso, aí vai:

Há quem considere que, para um casal, o ato mais sublime da relação - o fim último - seja o sexo. É lá,no ato sexual, que os dois celam a união se tornando um. De fato, por alguns segundos de prazer extremo, são um só e tem, não nego.. muita poesia, beleza e naturalidade nisso. Ainda assim, eu discordo da proposição. O sexo é a forma mais primária, mais primata, mais natural, mais animal de intimidade. Apenas está secularizadamente coberta pelos véus do pudor e da vergonha. Gente ,em geral, tem vergonha de admitir que está tantas vezes mais próxima dos bichos que dos homens ditos civilizados. Faço a ressalva, entretanto, que não estou banalizando o sexo, tampouco a intimidade, e sim.. discordando do significado que lhe foi atribuido... e da falta (de significado) que hoje lhe é atribuída por tanta gente.

A verdade é que sinto-me muito mais nua (e inicialmente enrubecida) na verdadeira intimidade do que durante o sexo. Permitir que te conheçam é que é de fato estar despido diante o outro. Despido, desarmado, "cheio de amor" e deserto. Esta é para mim a verdadeira entrega: a autencidade a dois.

Ser você, essencialmente você, sem máscaras, sem se prestar a papéis programados para provocar agrado no outro, mas que em todo seu despojamento agradam. Isso é, para mim, a intimidade ideal. Pura assim ela é amizade última. Se a ela eventualmente se emprestam certas fantasias (as quais as partes sejam capazes e voluntárias de incorporar), ela se torna amizade em sintonia com o tesão .. possibilitando aos dois envolvidos uma relação aberta a trocas que não só afetivas.

Intimidade diz maturidade e confiança.

Confiança é essencial. Confiança é risco. Como se desarmar tanto e se abrir para o outro se não houver a mínima certeza que aquele outro ali não vai lhe machucar? Afinal ninguém gosta de se sentir vulnerável. Qual garantia se tem que não vão rir de você?Não vão lhe expor? Não vão lhe trair?Não vão lhe deixar? Essa certeza é, na maioria das vezes, deveras ideal. Não há garantia. E, mesmo havendo confiança, é impossível descartar a perda iminente - esse gatilho de adrenalina das relações passionais.O que não é de todo ruim, até porque, a iminência da perda é fundamental para a manutenção do desejo e do desejo de desejar. Também, para a manutenção de algum mistério.. do ´não saber o que se passa pela cabeça do outro´.. da imaginação.. da sedução.. da fertilidade criativa e regenerativa de uma relação. Ela bloqueia a acomodação. Acomodação não é sinônimo de segurança. Entreguemos-nos, portanto,antes por nós.

Aí entra a maturidade. O autoconhecimento necessário para reconhecer o que pertence à nos e o que é proveniente do outro. Nossas expectativas às vezes são tão altas ou ilusórias que não sabemos mais separar quem o outro é daquilo que nós projetamos que ele seja. Não podemos cobrar o que não nos foi ofertado.

Uma vez estabelecida a confiança no outro, na sua conduta e nas suas intenções os jogos se fazem desnecessários. Para a mulher, sobretudo, não é mais relevante fazer chantagens de si própria.. como se seu corpo fosse um troféu-objeto ao fim da partida. Repito ainda, o sexo não é o mais sublime do todo..(embora seja muito bom principalmente se houver significado alí).

Do conjunto homem-casa, o corpo é a parte mais externa ... logo.. não seria, assim,a porta de entrada? O que temos de mais precioso, a alma.. a essência.. está mais adentro. É claro que tem gente que tema passar da porta de entrada (dá um baita medo mesmo. Temos medo do que desconhecemos) e se contente só com a intimidade externa. É bom, claro que é! Acontece que chega um momento que não sacia aqueles que têm fome de (por) verdade. Há também quem começe a visita pelo interior e tenha medo de ir lá fora.. onde os fenômenos fogem do nosso controle.. e pertencem mais a natureza do que a qualquer código de conduta social.

Difícil não é ter intimidade.Não é dar intimidade. Difícil é conciliar suas diferentes facetas e compartilhá-las num dificílimo, dangerosíssimo exercício de intersubjetividade.

9.3.11

(Pequena reflexão) Carnaval é pura catarse social...

... Ainda bem , pois nem todos os brasileiros podem pagar a conta do analista.
Mas é claro! Que outra grande comoção social nos possibilita extravasar tanto pensamentos e desejos reprimidos no inconsciente, seguido de alívio emocional?

Eu sou fã de Caranaval! Fora o bem que ele faz as massas ou à soma dos indivíduos, ele proporciona uma melhor leitura das pessoas. Afinal, se pensarmos que no Carnaval as pessoas liberam suas vontades inconscientes sem medo de serem rotuladas (qualquer coisa,´era Carnaval´), elas acabam por serem mais autênticas e permitirem ser vistas por ângulos que ..em contextos comuns, jamais existiriam. É divertido, ou no mínimo instrutivo, ver as pessoas mais próximas daquilo que são ou que gostariam de ser. A gente descobre muita coisa ao passo o que o alívio vem com a diversão, com a música.. como o amor ao amor ( porque amor é meio e não fim).. com o amor ao fato de estar vivo e morar em um país tropical, bonito por natureza (não necessariamente ser flamengo ou ter uma nega chama Tereza). Sem falar que é impagável esbarrar em pessoas conhecidas(ou desconhecidas) com as mais sugestivas fantasias. Aquele amigo viril vestido de fada, a menina comportada de passista.. e tantos outros de personagens que gostariam de ser.. policiais, super-heroís, princesas, sex symbols e outros que habitam o imaginário nem femenino, nem masculino, mas humano.. e o melhor ( ok.. a gente acredita) é que tudo não passa de uma brincadeira.. que se acaba na quarta-feira.

Expresso aqui meu eterno fascínio por Carnaval.Para mim, sua beleza reside no fato de ser não genuína, mas tradicionalmente brasileiro; na sua alegria; na sua democracia esboçada; no seu calor; mas principalmente no fato de que , é justo no Carnaval, paradoxalmente, quando as máscaras mais caem e é por isso, por esse peso descartado, é que essa festa é permeada de uma leveza insustentável ou queira-se: sustentável... a cada ano (porque das ´cinzas´sempre é possível renascer).

24.2.11

O passageiro e a gaita

(Aposto que ele subiu na Carioca. Ele tem cara de quem vem da Uruguaiana. Não que a Uruguaiana dê cara às pessoas. Ele tem cara de Sérgio. Sergio é um nome bem de adulto.. ainda que todos os Sérgios adultos já tenham sido um dia crianças. Sérgio é um nome responsável demais para uma criança. Tenho certeza que ele veio da Rua Uruguaiana, mas não pegou o metrô lá. Preferiu a Carioca. E essa gaita? O que faz ele com essa gaita e vestido de terno? Certamente não toca por trocados. E certamente não toca há tempos. (Pausa). Até que ele não toca tão ruim assim. É Bod Dylan. Como eu já ouvi Bob Dylan. Esta é uma das melhores. Como chama mesmo É... Catch the wind. Bonita... ´in the chilly hours and minutes of eternity, I want to be in the warm part of your lovely mind.. ´ (era lovely mesmo?). (Pausa).Ele parece triste. No mínimo sério. Bob Dylan é blues e blues é música ou de reconforto ou de protesto.Idade? 48..50 talvez Ele não deve ser casado. Não tem aliança. Mas tem jeito de ser pai. Daqueles pais de fim de semana que gostam muito dos filhos, mas nunca sabem ao certo como tocá-los, que presente dar, o que dizer. Deve ser triste por isso - porque não vê os filhos e os filhos o culpam por ser um estranho. Espero que ele encontre alguém.. e que toque gaita para ela. Gaita é super legal. Que ele fique mais descolado para não envergonhar os filhos e que esses passem a gostar mais dele. Ih, caramba, tenho que descer!)
- Com licença, senhor ?
(É instigante dar vida às pessoas).

8.2.11

Todo amor é inventado

Nota: Para não causar uma discussão com o João Paulo, especifico que refiro aqui ao amor entre os sexos, ou melhor, o conjugal - afetivo.


Renato Russo indagou ´Quem inventou o amor?´Cazuza cantou `adoro um amor inventado´. Eles, eu , você, sua vizinha.. todos nós quero crer (mesmo sem admitir). A idéia não é dele e outros poetas (dá-lhe Rimbaud!) tão bons quanto e tão excessivos ou mais já desnudaram o assunto. (Reparem que é uma fixação comun aos poetas. Precisamente por que para se fazer poesia a experiência do amor é primeira... assim me disseram). Sou fã de ambos e concordo, a cada dia mais que o amor tal qual é idealizado só pode ser mais uma invenção social.

Acredito que invenção é fruto de duas coisas: tédio ou necessidade. O amor é o `fruto proibido´ das duas. De proibido é cada vez mais reiventado , afinal é preciso disfarçá-lo a cada vez que ameaça os valores morais e os bons costumes.
A ameaça que hoje implica mudança provém da busca de ambas as partes por um amor sem riscos. Amor tipo descartável, satisfatório e inofensivo. Os românticos feito eu (não de romantismo,sim de nostalgia),com certeza não se identificam com essa busca. É uma pena, posto que provavelmente sofreriam bem menos. Por um outro lado a intensidade lhes favorece tanto para o ruim quanto para o bom - que de bom vira fantástico, quase transcedental. São esses que se permitem ao risco e a aventura singulares e intrínsecos à alteridadade comum ao amor. Em outras palavras - é a adrenalina da montanha russa que se projeta na possibilidade da perda a cada curva - a cada passo dado e igualmente, a dúvida sobre qual passo dar. É a eterna conquista até seu fim.

Já que todas as coisas são findas mesmo, com o amor não poderia ser diferente. Por que então, para algumas pessoas está implícita a aspiração à continuidade e à permanência de laços afetivos que muitas vezes já foram desfeitos ou sequer foram atados - já que para tal, ambas as pontas devem estar envolvidas? Perdão, algumas pessoas - em geral as mulheres. Mulheres realmente são profundamente complexas e há dias que, juro, compartilho do pragmatismo masculino de (pronta-)entrega, feito Vinícius (mais um!) descreveu como a eternidade durável.

A psicanálise defende que o amor surge para complementar-nos naquilo que o sexo sozinho não é capaz de fazer.... é: aquilo que o outro não consegue dar. Normal , já que homens e mulheres não falam a mesma língua e não compreendem imediatamente as carências alheias (com excessão de Chico Buarque, que definitivamente fala as duas fluentemente.. poeta) Assim, o amor - esse amor - só é possível devido as incertezas dos encontros amorosos ( o que hoje representam possibilidades muito maiores e mais numerosas do que para a geração de nossos avós - moralmente mais rígida). Amamos como quem joga um jogo com regras desconhecidas.Amamos como quem confia no acaso dos dados jogados.

Acontece que o acaso nunca será confiável! Ele presenteia e trai.Só a verdade é confiável. E ´só o amor conhece o que é a verdade´.( Estabelece-se aqui o paradoxo inoxidável)- Verdade essa universal e ao mesmo tempo a mais subjetiva de todas.´Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria´, disse também o mesmo Renato Russo.

31.1.11

Agiotas de afeto ( e por extensão.. de amor)

Cuidado! Os agiotas de afeto estão por toda parte! Espalhados nos lares, nos bares, nas salas de aula e repartições públicas! Infiltrados em nossas vidas, disfarçados de amigos e de amores; de amantes..colaboradores. Com seus discursos dissimulados e ombros dolosos nos estendem a mão pegajosa para jamais soltarem, para que quando, na vez deles precisarem e - por não se contentarem com reconhecimento e mais alguns trocados- cobrarem. E cobram. Cobram a prazo e com juros exorbitantes. Cobram o seu juramento - de igual presença, de igual envolvimento,de igual satisfação, de dever eterno. Assim, meus caros, o prazo nunca se esgota até que você se esgote. Até que a relação se esgote.

Cuidado com os agiotas de afeto! Cuidado também para você não se tornar um. Agiotas de afeto não são o que são por crueldade ou desvelo. A agiotagem de afeto beira uma epidemia! São pessoas carentes e inseguras que não sabem existir se não por essa torta maneira de ser. São pessoas que necessitam da constante e plural aprovação alheia e por isso se submetem à servidão condicional - sim, repito - condicional- dos outros - de seus ´outros´ com a ressalva de que esperam desses a mesma atitude ´em troca´, quando não mais!

Agiotas de afeto cometem o mais egoísta dos crimes. Possessivos, vivem suas relações como contratos (embora , juridicamente, algumas de fato o sejam), onde ambas as partes devem honrar suas obrigações. Pais com seus filhos, namorados, amigos entre si, colegas. Os níveis de expectativa e cobrança com relação aos contratantes (que aliás, nada pediram, tampouco assinaram) nunca estiveram tão altos! As vítimas não sabem mais como agir!

Se você sofre com as intermináveis cobranças de um agiota de afeto e se sente devedor por ingratidão, não se desespere, amigo - há solução! Começe despindo-se de qualquer culpa ou dívida imposta. Você não consumiu nada, portanto, não há conta a ser paga! Liberte-se daqueles que lhe jogam na cara que muito (quase nada) por você fizerem, pois quem necessidade tem de afirmar o que é, em muitos casos prega uma falsa fé - e te fazem crer que o são de fato um refúgio de afago amável quando se está vulnerável. Nunca confie em quem diz ser de confiança.Há coisas que não precisam ser ditas.
Já outras.. precisam ser constantemente relembradas, como estes versos de Drumond em as ´Sem-razões do amor´:


´Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.´

28.1.11

Palmas para Plínio, por favor

Já nem me lembro mais como foi que esse texto parou em minhas mãos. Sei que foi ele que me fez despertar para reflexões acerca da complexidade dos homens.. e claro, para o teatro. Foi também a primeira coisa que li de Plínio Marcos - nome ao qual recorri inúmeras vezes depois e que hoje considero, ao lado de Nelson Rodrigues, um dos maiores dramaturgos brasileiros.

O Ator

Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico a ponto de fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas; sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor já vivido.Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endureçer, de forma a atingi-lo no pequeno, porém macio núcleo de sua sensibilidade e por aí despertá-lo,tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.

O ator tem esse dom. Ele tem o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. O ator, não o autor ou o diretor tem esse dom. O público vai ao teatro por causa dele. O autor e o diretor só são bons à medida que dão margem às grandes interpretações.

Mas o ator deve se conscientizar de que é um Cristo da humanidade: seu talento é mais uma condenação do que uma dádiva.
Ele deve saber que para ser ator de verdade vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso coragem, muita humildade e, sobretudo, um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor de seus personagens;com a única intenção de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidades padronizados, como pretendem os hipócritas, com seus hipócritas códigos de ética, conduta, sedução e poder.

Amo o ator nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero da sua inseguança, quando ele, como viajante solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente procurando, no seu mais secreto íntimo, afinidades com as distorções de caráter do seu personagem.

Amo o ator mais ainda quando,depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, oferecendo seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor, sem nenhuma reserva, toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.

Amo o ator por se emprestar inteiro para expor os aleijões da alma humana, na tentativa que o público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, a ser construído pela harmonia e pelo amor.

Amo o ator consciente de que a recompensa possível não é o dinheiro,nem o aplauso, mas a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Amo o ator consciente de que, no palco, cada palavra, cada gesto são efêmeros, pois nada registra nem documenta sua grandeza.

Amo o ator e por ele amo o Teatro. Sei que por ele o Teatro é eterno e jamais será superado por qualquer arte que se valha da técnica mecânica.

( Paula )

Este poema me foi dedicado há tempos por um autor com certa notoriedade no Centro Oeste, do qual tive a sorte de ser aluna: Álvaro Catelan. Eu ainda vivia para o teatro, para os rabiscos, para os rascunhos.. até cair em mim e ver que .. não dá para viver de poesia e ar.. até porque, meus sonhos materializaveis em ar não se sustentariam..mas não preciso, absolutamente não é preciso viver sem.

Paula

Porque inspira um poema ao poeta
Se mora em ti a própria poesia
Fazendo de ti uma ilha sensível,
Que traz na face o brilho do sol,
Nos lábios a força carmim
Que empresta ao sorriso a cor do marfim

Porque pedes um poema ao poeta
Se a poesia mora em ti
Em teus olhos, teus sonhos
Na esperança, na dúvida, na canção?
Pedes um poema ao amigo
Mesmo sabendo que a poesia
Hoje é hóspede do teu coraçao.

Um oceano de ilhas

"Nenhum homem é uma ilha", declarou Hemingway agora já não me lembro se foi em O Velho e o mar ou O sol também se levanta.Algo bastante otimista para um homem que passou pela vida com sérios problemas de alcoolismo antes dele mesmo tirá-la de si- o que não vem ao caso agora.

"Um oceano de ilhas". É o que nos tornaremos segundo o sociólogo e escritor polonês Zygmunt Bauman (se já não o somos). Ele não coloca a situação assim nessas palavras. A metáfora é minha.. ou a ouvi algum tempo atràs.Bauman cunhou o termo "líquido" para descrever nossa moderna sociedade.Líquida,para mim, posto que tudo se esvai rapidamente - desde nossas relações afetivas até postos de trabalho e bens materiais. Estamos nos esvaziando.É triste e enfadonha a constatação, mas está aí.

A iminência da perda em qualquer esfera da vida, e não somente nas relações afetivas (como poderia sugerir o título da obra de Bauman - Amor líquido), gera níveis de insegurança cada vez mais altos. Ademais, a tendência a projetar o formato das "redes" - tão facilmente atadas e desatadas fomenta a substituição de laços duráveis por relações descartáveis - onde as pessoas se tornam o objeto de descarte.O risco de perda é quase inexistente e o investimento, digo, o envolvimento, baixíssimo.

A análise não se estende somente às relações afetivas. Polticamente o fenômeno surge nas recorrentes crises imigratórias (sobretudo no velho continente), onde descarga de sentimentos como medo, insegurança e raiva recai sobre os estrangeiros ou refugiados.

(In)felizmente esse é um assunto cheio de contradições e que, ao meu ver, embora líquido, não se esgota assim em frases desleixadas e sem querer me precipitar.. deixo o radicalismo das decisões de lado... Hoje eu quero apenas propor uma reflexão e não sugerir que excluamos nossas contas de Orkut ou Facebook ou outros. É interessante pensar que se tem trezentos e cacetada amigos - virtuais.Igualmente, é assustador pensar o quanto somos sós, mesmo em um oceano tão vasto.

(O livro, apesar de fazer parte de uma tese, é muito bom, de leitura fácil e agradável.)