24.6.11

Nossos Tempos

Férias parciais. Quero o meu tempo.. quero sentí-lo, percebê-lo, respeitá-lo. Quero escrever(mais), ler um livro, sair de casa, andar sem direção descobrindo as ruas como se as visse pela primeira vez em muito tempo.. quero muito tudo sem pressa e esquecer que horas são sem me preocupar. Esquecer que dia é da semana e fazer do sol o meu parâmetro...

Observo que nossos tempos andam regidos pela urgência. Essa senhora intrometida e histérica que apressa tudo em nossas vidas. Há momentos em que e presença dela até não é de todo ruim, mas em boa parte acho que ela só atrapalha. A urgência é um alarme,um despertador que rompe com o primeiro tempo íntimo de cada um, o tempo de sono.O tempo dos corpos. Até aí tudo bem, posto que impõe disciplina àqueles que por vontade própria provavelmente ficariam entregues à inércia, à preguiça, ao ócio de um leito ou de alguma outra atividade mais prazerosa que as obrigatórias por coersão.

De onde eu vejo, o problema maior é quando ela adentra outros tempos nesses nossos tempos. Há coisas que simplesmente não podem ser apressadas, a começar: o escrever, o descobrir, o conhecer, o saber, o fazer artístico, o fazer erótico...o sentir. Viver, de forma geral, não pode exigir pressa, ânsia nem exatidão temporal ou etária.(Temos um tempo comum - aquele nos nos permite conviver e respeitarmos uns aos outros e as instituições e, onde ele termina começam nossos tempos próprios - cada um tem o seu. Sintonia seria, assim, quando dois ou mais tempos próprios convergem em um só). Caso contrário um corre o risco de queimar suas etapas (motivo pelo qual sou avessa aos planos à longo prazo..com datas e idades mensuradas).
Penso muito nesse contexto, e com certo pesar, nas crianças. Talvez porque elas são mais passíveis de sofrerem influência do grupo.. de repetirem comportamentos para os quais ainda não estão prontas.

Penso também na juventude... a juventude, em qualquer tempo histórico, sempre foi marcada, entre outras coisas, pela pressa em viver. Qual é a nossa?! Sequer sabemos com exatidão aonde vamos, tampouco o caminho certo.. então,para quê tanta pressa?! É como se estivéssemos no prelúdio e a verdadeira canção só começasse aos trinta e com ânsia de chegarmos lá, apressássemos o passo e atropelássemos o compasso. É dançar uma valsa 3/4 em ritmo de rock. Para quê?! Para nos fazermos notados?
Chego, aqui, onde pretendia: associar essa pressa em viver com a necessidade incessante em se mostrar que está vivendo.. e não há maneira mais prática e paradoxal de fazê-lo do que por meio de vitrines pessoais em redes sociais.

Se é verdade que o outro é espelho de nós mesmos, confirma-se o fato de que precisamos do outro (em maior ou menor escala) para nos convençermos de nossas realidades. Aplique a isso a moralidade da urgência e voilá: chega-se à tendência da vida à mil por hora, do "vivendo intensamente"... Acontece que as mídias sociais não representam a realidade no plano real, e sim um plano paralelo.. uma realidade muitas vezes filtrada e forjada. Alí - você só expõe de você as partes que desejar. (Ninguém mostra, deliberadamente, seus defeitos, seus piores ângulos, suas fraquezas.. seria a negação do "self-promotion"!).

Sempre que eu vejo comentários e legendas de fotos nesse etilo "minha vida é uma festa", crio minhas ácidas dúvidas em tom crítico: "Será? Será mesmo que a vida desta pessoa é tão intensa, frenética e repleta?". Se fosse na intensidade e velocidade nas quais ela descreve provavelmente ela não teria o tempo de parar para fazer uma exposição daquilo, porque, justamente, estaria tomada pela intensidade louca de sua vida. É um tanto triste pensar que as pessoas estão se tornando mais interessantes em outro plano - protegidas por telas-escudos, sem se permitirem serem conhecidas de fato... até porque como é tudo muito rápido.. fica difícil acompanhar as inúmeras e constantes mudanças.
A moralidade da urgência vende, é "in".. "cool". Todo mundo quer ser comprado antes de perecer então(?). Ou melhor, ninguém quer perecer... Perecer, bilogicamente falando, é envelhecer e envelhecer definitivamente já está "out-dated". Agora isso é objeto para outro post e eu já estou embaralhando demais meus pensamentos...

5 comentários:

AnônimaNaNuvem disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

ah, minha linda! Tenho que partilhar essas ideias... a vida parece estar numa maratona infindável, em que não sabemos o fim, mas queremos ser os primeiros: tenho mais amigos que você (nem sempre reais, mas qualidade pra quê? Não temos tempo), twitto mais do que você, roubo frases do Pensador para parecer um culto e não mostrar que bagagem nenhuma eu tenho (mais uma vez: não tenho tempo nem disposição de pensar, pelo menos não a maioria)...

são tantas atitudes mecanizadas que quando paramos para analizar talvez tenhamos perdido muito tempo. Mas ouvi dizer uma vez que "não se pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas se pode começar agora e fazer um novo final".

UM BRINDE A UM COMEÇO DE VIDA! Porque viver, viver é delicioso e pra ser assim tem que saborear ;)

Saudades de ti. Coloquei teu texto no blog, com os devidos créditos.
Beijos :*

C. Luke Drácula disse...

Que vivamos no mundo real, pois nele está a verdade/realidade em sua totalidade, independente de "mundos paralelos" (que ótima palavra para este tipo de 'vida', adotarei... xD).
"Vivemos na era da informação, mas onde ir ou o q fazer com tanta dela vindo de todos os lados e com uma velocidade grande..." foi algo que relacionei enquanto pensava sobre seu texto. Descobrir o próprio tempo é essencial, até pq cada um é cada um.
Me desculpe os estereótipos.

alex disse...

às vezes leio coisas por ae que discordo ou que simplesmente não me agradam, mas quando leio seus textos sinto que é uma voz dentro de mim que diz "é exatamente isso!". A sua maneira única de escrever, suas idéias, seus argumentos e sua visão de mundo me fazem ler seus textos num incessante flerte com as palavras e um leve sorriso no rosto, de esperança. Continue assim Piccolina.

pequena disse...

Alex... isso se chama afinidade (eu acho).. daí por que somos amigos, não? Não concordamos em tudo, mas em algumas coisas e eventualmente.. nos permitimos tomar emprestados os pensamentos um do outro... como em uma troca, efetivamente. Adorei o seu "fletar com as palavras".. eu sou uma grande "flertadora de palavras". haha :D