24.6.08




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Já que fui impedida de assistir à segunda aula...saí para ver Goiânia.Lentes (já) nostálgicas.

18.6.08

Singela

Domingo. 07:47:48 , 07:47:53 , 07:47:57 , 07:48 .Gostava era de levantar cedo, mas custava à ela abrir os olhos.Sofria de insônia.Não se queixava - era à noite que melhor se sentia, fosse por estar só ,podendo concentrar-se melhor nos seus negócios, fosse por estar dormindo ou então, com muito, muito sono que esquecia as dores da vida e os problemas mundanos.Quando emfim conseguia dormir,sonhava com certa constância.Talvez fossem esses sonhos que a faziam se sentir tão bem,esquecer o mundo dos muitos,vivendo apenas para (e no ) seu.Efim abriu os olhos. Suspirou,hesitou, mas sua gritante responsabilidade que a acompanhava desde menina a fez levantar.Sentou-se na cama.Lembrou então que era domingo, tarde demais:uma vez acordada impossível salvar o sono.Pôs os pés no chão de tábua corrida.Seus delicados dedos femeninos, com as unhas pintadas de vermelho escarlate ( era vaidosa - e óbvia quando queria ser), encolheram: estava frio.Calçou as havaianas brancas e arrumou a alça da camisola azul marinho que caíra de seu ombro bronzeado e sardento. Prendeu num despojado rabo-de-cavalo os compridos e largos cachos cor de avelã.Vestiu o moletom velho do pai do qual tanto gostava ( aliás, gostava de tudo que fosse velho e tivesse história) e caminhou até o banheiro.Leu as letras garrafais: UYN - por um instantes sentiu confusa: ..verdade, espelhos refletem o inverso das coisas.(O pai, um homem de sorte, mas mais de competência do que sorte... havia cursado administraçao - só que não aprendera que impossível era administrar a própria filha,ou qualquer pessoa que fosse por tal causa..)Gostava de espelhos-tinha um ego enorme, embora aprendera a sufocá-lo muito bem em público.Observou-se : "estou gorda",pensou. - Mulheres... Aproximou-se mais: os olhos azul-cinza estava contornados por imensas olheiras ... desisviou o olhar: o que não via não a atingia.Escovou os dentes e pulou de novo na cama.

Sabia que os pais, o irmão a a avó iriam sair cedo e só voltar na hora do almoço, mas queria garantir silêncio exclusivo , então sentou-se imóvel em seu leito e leu até às 08:30.Como gostava de ficar sozinha!De sentir o silêncio na casa,de se ouvir pensando!De chegar a achar que fazia parte do espaço como um objeto de decoração ou uma planta.De conseguir passar mais de 12 horas seguidas sem profanar uma palavra ou som sequer.Era seu ritual secreto e sagrado,seu ritual singelo.

08: 43 . - Já podia sair da toca, aliás,havia-se perdido com Clarice ( ou Seria Alice, "através do espelho")...Abriu a porta .De súbito excitou-se como se o que estivesse fazendo fosse proibido,ou feio ou errado - mas há muito perdera véu da culpa.E no fundo sabia que não há nada de errado em querer um tempo para si.Andou na ponta dos pés - embora fosse absolutamente desnecessário já que não tinha ninguém em casa a não ser o cachorro e as plantas - gostava em particular da companhia desse.Tinha olhos,obviamente, os quais lhe transmitiam impressões de confiança e compreensão , ao passo que não despejava em seus ouvidos mundos de conselhos e caminhos que tanto estava cansada de ouvir.Não é que não gostasse da família, de pessoas.. pelo contrário, a vida toda fora muito comunicativa e sempre deu muito valor ao lar e ao clã.Vozes,timbres,pensamentos desordenados, esses sim , a consumiam.

Gostava de dar tempo ao tempo.De realizar os atos mais instintivos como se estivesse os encenando impecavelmente para um expectador (do)invisível - fosse Ele quem fosse.(Domingo é, universalmente, dia disso).Sentiu fome e sentiu alegria por sentir fome.É que a fome que sentiu naquele instante não é aquela dos meninos de rua, não; é uma fome entre uma refeição e outra e não há receio em senti-la, pois sabe-se que será breve- felizes são aqueles que a sentem! (Há um quê de feio nessa fome,pensava ela, mas não se sentiu culpada).Há muito não sentia fome de fato. Comer tornara-se um ato meramente mecânico,pura subsitência na Terra.Queria sentir novamente prazer em comer.Degustar o que ingeria.Gostar daquilo,pois aquilo logo seria parte dela e devemos gostar de nós, não?!Queria gostar de si, como os pais gostavem, como os olhos de homens,almas simpatizantes,amigas e amigos gostavam,como Deus supostamente gostava.

Decidiu,como quem dá um veredicto, comer uma tangerina. Para ela não havia melhor fruta que não uma tangerina,doce e azeda,suculenta-capaz de alimentar e matar a sede.Cereais, que a lembravam muito da infância e de uma querida amiga,qualhada e café amargo,bastante amargo.Juntou tudo e sentou-se na mesa de praia da sacada com a enorme vista panorâmica ( embora não houvesse praia nenhuma ali perto - o que às vezes a aborrecia, por acreditar que enxergar a linha do horizonte no oceano,diferentemente de em uma paisagem terrestre, dava-lhe maior sensação de liberdade,proximidade com o restante do mundo e portanto, mais " pertencente" a ele - bobagens..).Cruzou as pernas e mastigou,lentamente... a observar o descanso dominical dos transuentes,passantes e seres da Terra... lá de cima de sua torre.

10.6.08

Eu ostra

Sou ostra ou sou mar,
Neste meu despertar?
Feita Ninho familiar,sonhos e vontades;
Realizaões e saudades.
De palavras de poetas,abraços de amigos,
Destinos sortidos e muitos sorrisos.
Sou feita muitas línguas,muitos lugares,muitas pessoas.
De não muito tempo.
De asas e chão.
Sou também meu irmão.
Feita de lágrimas,ora azedas,ora meladas.
( Repentinas, Necessárias)
Sou filha do meio, sou filha do mundo.
Sou não e sim e não.
Sou reinvenção.
Corpo,alma e mente.
Cabeça dura, cabeça feita(?)
O novo sempre me deleita,
Serei,pois,o verbo amar.
E neste momento, prefiro ser mar.