3.4.11

Da intimidade (a) dois

Não é a primeira vez que desejo discorrer sobre a intimidade e deixo claro desde já que não se trata de um tratado (nunca pretendi deter nenhuma verdade que não as minhas.. nem tê-las como absolutas). Um analista provavelmente diria que eu só pude alcançar minha vontade quando (enfim) me permiti - e aos outros - ter intimidade. Quero crer, contudo, que intimidade não é planejada.. de repente nos damos conta dela..Não precisa fazer sentido para quem está fora.. nem ser bem estruturada na sua forma.. por isso, aí vai:

Há quem considere que, para um casal, o ato mais sublime da relação - o fim último - seja o sexo. É lá,no ato sexual, que os dois celam a união se tornando um. De fato, por alguns segundos de prazer extremo, são um só e tem, não nego.. muita poesia, beleza e naturalidade nisso. Ainda assim, eu discordo da proposição. O sexo é a forma mais primária, mais primata, mais natural, mais animal de intimidade. Apenas está secularizadamente coberta pelos véus do pudor e da vergonha. Gente ,em geral, tem vergonha de admitir que está tantas vezes mais próxima dos bichos que dos homens ditos civilizados. Faço a ressalva, entretanto, que não estou banalizando o sexo, tampouco a intimidade, e sim.. discordando do significado que lhe foi atribuido... e da falta (de significado) que hoje lhe é atribuída por tanta gente.

A verdade é que sinto-me muito mais nua (e inicialmente enrubecida) na verdadeira intimidade do que durante o sexo. Permitir que te conheçam é que é de fato estar despido diante o outro. Despido, desarmado, "cheio de amor" e deserto. Esta é para mim a verdadeira entrega: a autencidade a dois.

Ser você, essencialmente você, sem máscaras, sem se prestar a papéis programados para provocar agrado no outro, mas que em todo seu despojamento agradam. Isso é, para mim, a intimidade ideal. Pura assim ela é amizade última. Se a ela eventualmente se emprestam certas fantasias (as quais as partes sejam capazes e voluntárias de incorporar), ela se torna amizade em sintonia com o tesão .. possibilitando aos dois envolvidos uma relação aberta a trocas que não só afetivas.

Intimidade diz maturidade e confiança.

Confiança é essencial. Confiança é risco. Como se desarmar tanto e se abrir para o outro se não houver a mínima certeza que aquele outro ali não vai lhe machucar? Afinal ninguém gosta de se sentir vulnerável. Qual garantia se tem que não vão rir de você?Não vão lhe expor? Não vão lhe trair?Não vão lhe deixar? Essa certeza é, na maioria das vezes, deveras ideal. Não há garantia. E, mesmo havendo confiança, é impossível descartar a perda iminente - esse gatilho de adrenalina das relações passionais.O que não é de todo ruim, até porque, a iminência da perda é fundamental para a manutenção do desejo e do desejo de desejar. Também, para a manutenção de algum mistério.. do ´não saber o que se passa pela cabeça do outro´.. da imaginação.. da sedução.. da fertilidade criativa e regenerativa de uma relação. Ela bloqueia a acomodação. Acomodação não é sinônimo de segurança. Entreguemos-nos, portanto,antes por nós.

Aí entra a maturidade. O autoconhecimento necessário para reconhecer o que pertence à nos e o que é proveniente do outro. Nossas expectativas às vezes são tão altas ou ilusórias que não sabemos mais separar quem o outro é daquilo que nós projetamos que ele seja. Não podemos cobrar o que não nos foi ofertado.

Uma vez estabelecida a confiança no outro, na sua conduta e nas suas intenções os jogos se fazem desnecessários. Para a mulher, sobretudo, não é mais relevante fazer chantagens de si própria.. como se seu corpo fosse um troféu-objeto ao fim da partida. Repito ainda, o sexo não é o mais sublime do todo..(embora seja muito bom principalmente se houver significado alí).

Do conjunto homem-casa, o corpo é a parte mais externa ... logo.. não seria, assim,a porta de entrada? O que temos de mais precioso, a alma.. a essência.. está mais adentro. É claro que tem gente que tema passar da porta de entrada (dá um baita medo mesmo. Temos medo do que desconhecemos) e se contente só com a intimidade externa. É bom, claro que é! Acontece que chega um momento que não sacia aqueles que têm fome de (por) verdade. Há também quem começe a visita pelo interior e tenha medo de ir lá fora.. onde os fenômenos fogem do nosso controle.. e pertencem mais a natureza do que a qualquer código de conduta social.

Difícil não é ter intimidade.Não é dar intimidade. Difícil é conciliar suas diferentes facetas e compartilhá-las num dificílimo, dangerosíssimo exercício de intersubjetividade.

2 comentários:

C. Luke Drácula disse...

Excelente texto. Muito boa a sua reflexão, seu pensamento... Quando estava lendo o começo ia raciocinando comigo mesmo: Devo fazer um comentário que tenha a ver com confiança e com... (não soube responder); e daí você segue o texto abordando a confiança e a maturidade ('claro! É isso!', pensei). Muito bom! xD
Como você termina, concordo, entre outros termos, que: Difícil seja escolher um caminho sem volta e sem nenhum conhecimento prévio e nem exato.

Anônimo disse...

Seria idiota dizer que concordo com tudo?? Não é puxasaquismo nem nada, mas Não há verdade maior. As pessoas tem uma visão romântica de intimidade e esquece que ela está nos pequenos detalhes, e ai no fim você se vê tão envolvido e não sabe bem como aconteceu.
Saudades reais e sinceras paula =*