18.2.10

Por que no Brasil tudo não pode ser "Carnaval"?

A morosidade das filas, a burocracia extenuante, o quase total fracasso dos sistemas públicos de saúde e educação, a robalheira indiscriminada dos políticos corruptos diante de nós, os maiores lesados,vestidos de expressões de indignação e inércia - se essas e outras situações não lhe são indiferentes (ou são, né?) - você é definitivamente brasileiro, meu caro!Afinal...são "essas e outras situações" que afetam (e irritam) à nós brasileiros.Certo?E, como primeira prova de inconformação com nosso prórpio país soltamos frases como: "No Brasil tudo é uma Festa!", "Brasil, terra de ninguém." ou "No Brasil tudo é futebol e Carnaval!".No entanto, esperem... pensem bem: quem nos dera tudo fosse como futebol ou Carnaval!Que maravilha seria!

A cada ano,dotada da minha observação apurada e detalismo inato, ao assistir aos desfiles de nossas escolas de samba, para além das outras comemorações carnavalescas organizadas e distribuídas pelo país, fico impressionada com a organização à eles aplicada e a seriedade aplicada à esta. É claro que também aprecio todo o caráter fantasioso,festeiro,carnal da coisa, mas quero hoje chamar atenção para a administração daquela que é a nossa maior festa popular.

Todos os envolvidos se entregam sinergicamnete aos preparativos para que a festa aconteça de fato.É bonito de se ver. O esmero, a precisão,a dedicação a seriedade e o compromisso de cada um são essenciais para o "dar certo" final.Agora, vocês já pensaram, queridos compatriotas, se todo esse esmero, essa precisão, essa dedicação e essa seriedade fossem igualmente aplicados à outras esferas administrativas do país e adotadas na conduta de cada cidadão brasileiro?E o gingado e o rebolado das passitas...Se estes fossem um maior "jogo de cintura" para o país se adaptar às exigências de um que quer se tornar competente e competitivo à nível mundial?(Reconheço que isso já se vem fazendo).E se a passividade,graça e paciência da ala das Baianas fosse transferida ao nosso povo - para que possamos emfim entender que mudanças eficazes só se efetivam à longo prazo? Aí sim, Carnaval nenhum teria fim. Teríamos sempre e mais algo a comemorar e do que se orgulhar.A Festa seria levada à sério (e sem aquela seriedade nórdica - afinal... nossa identidade pauta-se na alegria, não é mesmo?).Cinzas?Só as da miséria,da precariedade e da corrupção que um dia nos assolaram. Fica aí um (samba-)enredo para o(s) próximo(s) ano(s).Carnaval esse ano já foi..e levou junto nossa desculpa para as coisas não funcionarem.Bola pra frente.

9.2.10

Por sorte nunca estaremos prontos.

Não estava pronta para nascer e, no entanto, prematuramente nasceu. Nem seus pais estavam prontos para serem pais e, errônea e amorosamente, o foram.
Não estava pronta para o amor.

Não estava pronta para andar, tanto é que caiu e levantou inúmeras vezes antes de se equlibrar nas duas pernas.Não estava pronta para falar.No começo balbuciou coisas imcompreensíveis que a mãe, a avó a as tias achram lindo.Depois falou.Alguém não estava pronta para seu primeiro dia de aula (nem para todos os seguintes).Esse alguém era sua mãe que vivia alí o segundo de tantos outros partos e não podia se conformar com o despachamento de sua cria.Ou era ela,insegura, que no instante era ela mais a barra da calça da mãe - fundidas em uma só.
Não estava pronta para as primeiras amizades, nem para as mordidas,beliscões e choros que "viennent avec".Não estava pronta para somar, subtrair,dividir nem multiplicar, nem para um universo tão grande como o das palavras. Mas se saiu (bem).
Não estava pronta para as primeiras mudanças que chegaram sem nem mesmo lhe dar aviso,curvando-lhe o corpo que por consequência começaria a curvar cabeças do sexo oposto.Era o primeiro e talvez o único infantícídio que assitira - o seu própio - e não estava pronta para abrir mão da liberade,das bonecas, do riso solto, das horas vagas.Mas se conformou e ainda que não pronta, com coragem ,altas expectativas e pressa.. encarou o luto da infância e mergulhou na pré-adolescência.
Não estava pronta para o primeiro beijo - tanto não estava que foi aquela coisa estranha,nervosa,sem saber muito o que fazer com as mãos, a língua e etc.Dentes,saliva,aparelho, condensados por um certo desconforto e ansiedade para com a performance (mais do que com o prazer próprio) que resultaram em um dos episódios mais marcantes - a ser guardado com carinho e constrangimento.Certas coisas aprenderia com a prática.

Não estava pronta para as escolhas, nem para os rótulos. Não estava pronta para se levar á sério. Não estava pronta para relacionamentos sérios.Não estava pronta para a dor.Não estva pronta para sua primeira vez. Não estava pronta para o gozo nem o prazer.Todavia levou-se,rotulou e escolheu...deu (no que deu).

Ainda não pronta para a paixão,se apaixonou.

Não pronta para a juventude adulta,terminou de adolescer.Não estava pronta para a faculdade, mas entrou. Não estava pronta par gostar ,e, não é que gostou?Não estava pronta para maior liberdade.Presa, se libertou.Não estava pronta para o trabalho, nem para errar com submissão, mas errou.Não estava pronta para a glória, o sucesso nem o reconhecimento.Não estava pronta para acreditar(nem em si). - Acho que mesmo no fim,verdadeiramente ele nunca acreditou.

Não estava pronta para o compromisso.Comprometeu-se.Não estava pronta para dividir o teto,os sonhos,os planos,as perdas,as contas e a cama.Porém dividiu.

Não estava pronta para o mundo.Nem o mundo estava pronto para ela, mas se encontraram.

Como seus pais, não estava pronta para ser mãe.No entanto o foi "errônea e amorosamente". Não estava pronta para o parto, nem para os que seguintes que viriam, mas deixou partir. Não estava pronta para abnegar ,mas abenegou. Não estava pronta para abdicar.Abdicou.Não estava pronta para o medo e se assustou.Não estava pronta para brigas.Brigou.
Assim seguiu sua vida.. nunca pronta para ser vivida - ainda que isso não a impedisse de vivê-la, pois sabia que vivendo se está sujeito à erros e acertos.Movida à medo,coragem,curiosidade e entrega..ela viveu.

No seu leito de morte, mas do que nunca não se sentira pronta.Pronta para morrer(?), pois ainda não realizara tantos outros desejos e objetivos que em vida não havia se julgado pronta(o suficiente).A espera matara-a.À espera do estar pronto(estamos).

4.2.10

O "não escrever".

O mais difícil em não escrever é o tempo que um despende não se escrevendo e o sentimento de fracasso que vem de rebote.Quando se atinge , mesmo que em termos de “auto-denominação” o santo grau de qualificação de “escritor”ao não escrever um é tomado pela sensação de fracasso na (única,talvez) missão à ele destinada e, de quebra,sente ter decepcionado uma legião de leitores ( seria mais fácil se fosse mesmo uma legião, e um tanto sadio para a auto-estima do referido “escritor” ..ao invés de tão somente uma média de cinco comentários por post.). Talvez eu estivesse enganada quanto à escrever bem, talvez eu acreditei demais – traindo ao meu prórprio princípio de sempre desconfiar de elogios(ponto).Correção:de sempre desconfiar
(ponto).-nos elogios que me fizeram.Vejo que às vezes ando armada por demais.

Em seguida vem a escolha do tema. MEU DEUS, como é difícil.A verdade é que eu, pelo menos, sempre tenho algo sobre o quê escrever.Aliás, aqueles próximos à mim sabem que ando sempre com um moleskine ( ou um pedaço de papel que seja) e uma caneta na bolsa, caso minha inspiração rebelde resolva aparecer em momentos (in)oportunos.Seguem alguns exemplos de coisas sobre as quais gostaria ( e ainda vou)escrever: velhos(sim, pessoas idosas..terceira idade, melhor idade), sexo (acho que ainda não escrevi por puro constrangimento), a infidelidade que cultivamos a nós mesmos (é, sobre como tentamos sempre ser alguém que não somos..como nos reprimimos, como engolimos, como vestimos farsas para agradar olhos alheios),sobre o medo,sobre o fracasso,sobre a grandezas, da dificuldade do término das coisas, sobre minha relação com as palavras, sobre minha relação com Clarice Lispector ( aí demorarei muito, pois acho que nunca estarei pronta), sobre o “estar pronto”, sobre a França, sobre viagens, sobre a infância, outra receita –desta vez ;”Fondant au Chocolat”! (é a que servi na última comemoração de meu aniversário..muito embora.. acho que pensei duas vezes..),..etc .

Está bem, confesso, a escolha do tema não é assim tão difícil.O difícil e orquestrar as idéias de forma harmoniosa mesmo.. como em uma sonata.
Muito embora um poeta certa vez já disse que “as notas dissonantes se integraram ao som dos imbécis ”.Tento, embora só, inventar um mundo dissonante.Palavras também podem ser desafinadas ( e ainda belas).

Sabe-se que não se escreveu quando não se compreende quase nada do escrito,quando sente-se que é o fim, sem qualquer identificação de finitude.Escrever não, escrever não acaba.