4.2.10

O "não escrever".

O mais difícil em não escrever é o tempo que um despende não se escrevendo e o sentimento de fracasso que vem de rebote.Quando se atinge , mesmo que em termos de “auto-denominação” o santo grau de qualificação de “escritor”ao não escrever um é tomado pela sensação de fracasso na (única,talvez) missão à ele destinada e, de quebra,sente ter decepcionado uma legião de leitores ( seria mais fácil se fosse mesmo uma legião, e um tanto sadio para a auto-estima do referido “escritor” ..ao invés de tão somente uma média de cinco comentários por post.). Talvez eu estivesse enganada quanto à escrever bem, talvez eu acreditei demais – traindo ao meu prórprio princípio de sempre desconfiar de elogios(ponto).Correção:de sempre desconfiar
(ponto).-nos elogios que me fizeram.Vejo que às vezes ando armada por demais.

Em seguida vem a escolha do tema. MEU DEUS, como é difícil.A verdade é que eu, pelo menos, sempre tenho algo sobre o quê escrever.Aliás, aqueles próximos à mim sabem que ando sempre com um moleskine ( ou um pedaço de papel que seja) e uma caneta na bolsa, caso minha inspiração rebelde resolva aparecer em momentos (in)oportunos.Seguem alguns exemplos de coisas sobre as quais gostaria ( e ainda vou)escrever: velhos(sim, pessoas idosas..terceira idade, melhor idade), sexo (acho que ainda não escrevi por puro constrangimento), a infidelidade que cultivamos a nós mesmos (é, sobre como tentamos sempre ser alguém que não somos..como nos reprimimos, como engolimos, como vestimos farsas para agradar olhos alheios),sobre o medo,sobre o fracasso,sobre a grandezas, da dificuldade do término das coisas, sobre minha relação com as palavras, sobre minha relação com Clarice Lispector ( aí demorarei muito, pois acho que nunca estarei pronta), sobre o “estar pronto”, sobre a França, sobre viagens, sobre a infância, outra receita –desta vez ;”Fondant au Chocolat”! (é a que servi na última comemoração de meu aniversário..muito embora.. acho que pensei duas vezes..),..etc .

Está bem, confesso, a escolha do tema não é assim tão difícil.O difícil e orquestrar as idéias de forma harmoniosa mesmo.. como em uma sonata.
Muito embora um poeta certa vez já disse que “as notas dissonantes se integraram ao som dos imbécis ”.Tento, embora só, inventar um mundo dissonante.Palavras também podem ser desafinadas ( e ainda belas).

Sabe-se que não se escreveu quando não se compreende quase nada do escrito,quando sente-se que é o fim, sem qualquer identificação de finitude.Escrever não, escrever não acaba.

4 comentários:

C. Luke Drácula disse...

Não tenho nada a acrescentar. Concordo plenamente com sua ideia aqui exposta. Bom texto!

Anônimo disse...

Ahm... Acho que costumava ver comentários seus (excelentes por sinal) nos posts do Alex. Vagueando sem rumo pela internet, resolvi checar os blogs e óh, um post do Simon. No canto direito do blog, último aplicativo... encontrei um link com um título extremamente interessante. E vim parar aqui.

Colocando minha opinião: pra mim, a sociedade nos faz acreditar em um monte de coisas, bem como nosso cérebro também. Não li mais nenhuma produção sua, portanto, estou me posicionando como alguém imparcial diante de toda a situação. Quero dizer então que, nós humanos devíamos fazer mais as coisas por nós mesmos. Sem aquela história de egoísmo nem egocentrismo. Mas, fazer por nós, pelo que somos, pelo que nos tornamos e pelo que nos tornaremos.

Quem faz as coisas acontecerem é você e se você não acredita em si, as coisas deixam de acontecer. Você acredita que é capaz de escrever (bem)? Então você escreve. Não são meros comentários que irão definir a sua capacidade. Muito menos a sua qualidade. Quem faz ou fez sucesso provavelmente começou com coisas simples e também pouco propagadas. E quem diz que o que faz sucesso é realmente bom? Se isso fosse regra, o funk [o mais esdrúxulo mesmo] não seria tão ouvido e/ou dançado.

Assim como somos nós que fazemos acontecer, somos nós quem colocamos limites. Não deixe coisas tão irrisórias limitarem você.

João Paulo disse...

Paulinha, amiga, sempre passo aqui para ver seus textos. Como você sabe, eu os adoro.

Você desconfia de elogios, e tem de desconfiar mesmo, porque temos de prezar a sinceridade e os elogios muitas vezes não são sinceros. Muitas vezes, o elogio vem de uma inveja alheia - o invejoso admira-nos, receia a demonstração pública desse sentimento considerado mesquinho e, para extravasá-lo, nos elogia, muitas vezes menosprezando a si próprio, para incutir em nós e nos outros algum sentimento de pena ou consideração que o faça elevar-se, saindo da fossa (imaginária, inventada por ele próprio) para por fim equiparar-se a nós próprios. No fundo, há nele um sentimento de competição, natural de todos nós, imperfeito que somos.

Ou, por vezes, o elogio vem forçado, mesclado de muito carinho por parte da pessoa que o faz, geralmente muito querida, que não quer dizer que achou mediano ou fraco para não desagradar ou desmotivar-nos.

Digo esses dois tipos de elogio porque eu próprio já fiz os dois (tento não fazer o primeiro, mas muitas vezes acabo fazendo; o segundo, hê, faço demais).

Mas, por favor, acredite nos meus elogios, são sinceros. Nós temos uma afinidade muito grande em idéias...

Me conte suas novidades, Paula, sobre vestibulares, a vida, o Rio. Mande-me um e-mail, ou vamos sair algum dia.

Daniel Simon disse...

Eu não escrever é realmente algo incoveniente.

Não se vc pensa assim, mas eu como blogueiro muitas vezes me sinto improdutivo quando não escrevo.

E confesso que estou passando por uma fase de "não-escrita"