14.6.10

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Nota: Os direitos autorais do presente artigo foram transferidos da autora para o jornal estudantil 'O Estudante' da EBAPE-FGV (Rio de Janeiro - RJ) de fins não lucrativos. Foram feitas apenas algumas modificações.

A Copa do Mundo de Futebol já começou, mas não — esse não é o placar do próximo jogo do Brasil. Tampouco (ainda, pois há sempre esperança), “a Copa do Mundo é nossa”. Podemos, contudo, afirmar com atávico orgulho de sermos brasileiros: “conosco não há quem possa”, pelo menos não “mais”.
O presente artigo refere-se à aprovação da lei complementar “Ficha Limpa” pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no último dia 4 deste mês por seis votos a favor e somente um contra. Agora, a “nova” lei veda o registro de candidatura eleitoral aos políticos condenados na Justiça por crimes graves — entre eles: cassação do mandato, crimes contra a vida, crimes dolosos, crimes contra o meio ambiente, tráfico de drogas, abuso de poder econômico e improbidade administrativa. Outra modificação significativa é a ampliação do período de inelegibilidade de três para oito anos. Igualmente, vale destacar que o político que tentar renunciar ao mandato — ou, popularmente falando: “sair pela tangente”- como forma de preservar seus direitos políticos não obterá êxito.
A princípio só foi estabelecido que a lei vale para as eleições deste ano. Os demais itens, como a incongruência com o princípio da “não culpabilidade” presente na Constituição de 1988 ou a possibilidade de potenciais candidatos “sujos” poderem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (sob o julgamento de um colegiado de juízes e não um único), entrarão na pauta das agendas a serem debatidas esta semana.
A despeito (preservando todo o respeito) dos “detalhes” do processo de votação e dos argumentos da oposição (alguns inclusive pautados em princípios constitucionais, portanto plausíveis), bem como das frustradas tentativas de alguns parlamentares em desvirtuar o texto original do projeto, é preciso enxergar além. É preciso sublinhar o valor moral deste “passo político” para o País, sobretudo para a sociedade civil. Afinal, foi por meio de uma mobilização popular que o antes projeto de lei chegou ao Congresso com uma voz forte, imponente e audível aos nossos deputados. Foi a sinergia entre 44 organizações ligadas ao Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral ( MCCE); 1,6 milhão de assinaturas iniciais e mais de 4 milhões de assinaturas virtuais que a atual geração de jovens pôde presenciar e participar de uma mudança de iniciativa genuinamente popular no País. Jovens usual e injustamente taxados de alienados e indiferentes à política, porém que provam ser dotados de consciência nacional —não só no que diz respeito ao futebol.
Como prevê a Constituição Federal, a democracia representativa deve co-existir com a democracia participativa, bem como que a soberania popular será exercida pelo voto universal, direto e secreto — com igual valor para todos — e, nos termos da Lei, mediante plebiscitos, referendos e, mais importante, iniciativas populares. No que tange a Iniciativa popular legislativa com relação à elaboração de projetos de lei por parte de pessoas civis é exigido que o projeto seja subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado, em a partir de cinco estados distintos e com pelo menos 0,3% dos eleitores em cada um. Ainda diante de tantas exigências (quiçá limitações), foi possível o cumprimento das mesmas e a
superação das expectativas, prova de que juntos, somos sim capazes (por mais clichê que isso possa soar). Assistimos à abertura de uma janela, de uma porta ou de um portal, quem sabe, oportunos para a remodelagem nos próximos (quatro?) anos dos preceitos constitucionais referentes à democracia de participação popular na elaboração das leis. Do povo para o povo. A “seleção” começa ontem, (no melhor do estilo retroativo, sim)! Quem serão os convocados?Vocês; futuros administradores, economistas, advogados e cientistas sociais; se habilitam?Aliás, vocês... brasileiros, se habilitam?

5 comentários:

Rabelo disse...

Paula, como voce ja sabe estou sempre aqui acompanhando suas atualizaçoes! =) Esse texto é muito bom... agora posso tambem me atualizar juridicamente com sua ajuda! hehe
Bjao e muita sorte pra voce!

Daniel Simon disse...

Eu duvido um pouco da eficácia do projeto ficha limpa, mas eu assinei mesmo assim.

Eu acho difícil os grandes oligárcas largarem de mão beijada a Máquina Estatal. Vão acabar criando algum mecanismo para fugir dessa lei.

Agora outro ponto para se pensar... uma coisa é 1,6 milhões de pessoas se manifestarem virtualmente, outra é 1,6 milhões sair as ruas para exigir mudanças.

Para mim essa questão não é tão simples, mas concordo que o ficha limpa já é um começo

Céu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Céu disse...

Acho que ajuda a memória fraca politica que nós brasileiros temos!!!
Bom texto, espero q só n seja mais uma lei-papel-brasil!
Besos p ti
(thially Holanda) Agora com o pseudônimo de Céu rs

João Paulo disse...

O Ficha Limpa realmente representou um ganho em termos de participação política e atuação cidadã dos brasileiros. Houve uma mobilização muito grande. Isso porque não basta reunir 2 milhões de assinaturas (o que já é difícil), após isso o projeto de lei segue para o Congresso, onde poderia ter sido negado ou alterado substancialmente pelos parlamentares. Mas os deputados e senadores, por mais que quisessem, temeram a fiscalização da mídia, temeram ir contra o Projeto em ano de eleição e ficarem sujos diante do povo. Por isso, seguiu com pouquíssimas alterações. E o Presidente sancionou sem alterar nada também.

É a força do povo, por meio desse instrumento tão comum que é o abaixo-assinado (projetos populares de lei).