16.12.09

Malhando academias (mas nem tanto).

Nota: Há tempos disse a um amigo meu que emfim pegaria minha idéia engavetada e faria um texto sobre esse assunto.Na ocasião ele me contara, entre outras novidades as quais eu suplicava com um sorriso sapeca no rosto, que acabara de entrar para uma academia e eu começei, sem nem mesmo ser consultada, a divagar,argumentar,discursar,expor,explicitar incansávelmente a minha opinião sobre as academias de ginástica de forma geral.Ele, muito provavelmente sorria, como quem me consentisse alguma razão- só por saber que é isso que eu busco sempre (e até demais, ao meu ver), do outro lado da linha.Espero que ele veja este texto, até porque não me julgo assim merecedora de sua atenção.Dedico-o à ele; à nossa conversa.


Não gosto de academias de ginática. Não que eu não goste de um corpo bem eculpido(seja ele masculino ou femenino). É agradável aos olhos,na a primeira opção e invejável aos nervos considerando a segunda, ou vive-versa, dependendo do gênero e opções do observador. Aliás, como boa carioca que sou, dou valor (talvez até exagerado) às atividades físicas, à um fisico bem cuidado, saúde,alto-astral, um yong look e um teint frais et bronzé.
O que me incomada nas academias de ginática são dois aspectos muito particulares: a ideologia que elas "carregam" em seus pesos,pesinhos, caneleiras, barras ,etc; e à sua estrutura fábril (movimentos repetitivos, em série, entre quatro paredes .. meio fordista,sabe?) - que acaba por reforçar ainda mais as teorias do "corpo-objeto" ou "corpo-produto", nesse caso - um produto a serviço do quê? Pois eu lhes digo: do desejo.Sim, um corpo a serviço do desejo.Isso é muito importante.Desejo é algo imprescindível e natural ao ser humano e não deve ser reprimido.Agora, esse desejo do qual falamos: ele é seu ou é ele dos outros?

Nada é reprimível (e quem sou eu para ditar algo?). De forma alguma estou aqui dizendo para vocês, "ratos de academia", "malhadores de plantão", marombados e popozudas do pedaço deixarem de frequentar vossas sagradas academias de ginástica.Que fique claro que eu lhes admiro muito - é preciso muita disposição e disciplina, não só físicos, mas pscicológicos também para encarar uma academia. Já eu, como não as possuo, ou as direciono para outras atividades , prefiro me exercitar ao ar livre. Na maioria das vezes é gratuito, pode-se escapar das incansáveis "sociais" ou small talks no corredor ou no vestiário e é ótimo observar a paisagem - sobretudo quando se tem um bonito cenário para a ocasião- e sentir o cheiro do ar.. grama recém cortada em alguns lugares, salgada maresia em outros.

Bom, voltando aos meus argumentos: a ideologia à qual eu me referi anteriormente é a da Moralidade da Magreza ( diz aí - alguém entra em academia que não seja para atingir um peso magro, manter o já possuído ou defenir suas formas? Que eu saiba não.).
A Moralidade da magreza está diretamente relacionada com a urgência em viver e dar sentido imediato à vida.A moralidade da magreza é quase que hiperativa ela mesma, ela tem hipertireodismo,insônia, ansiedade, pressa.. e por isso ela é tão,tão ...magra ( será que ela é Pequena também?). Ela diz mais ou menos o seguinte:Darling, Eu vivo tão intensamente que SIMPLESMENTE não tenho tempo para comer (atividade supérfula reservada aos desocupados e fracos), honey, mas tenho tempo para malhar (- peço aos senhores , por obséquio, procurarem o real significado de "malhar" em um dicionário - é chocante!) . É aí que ela se contradiz e acaba por atentar contra a própria "vida"- tão presente em seu discurso, afinal aquilo que biologicamente nos mantém vivos é a alimentação... (é o preço que pagamos por sermos meros heterótrofos de nada,nadica.. ).

Não são só as academias de ginática que carregam essa ideologia. Ela está presente também na indústria da moda, da mídia, na música (quer exemplo melhor do que nosso Stone mais querido.. ou o Mick Jagger não ilustra bem tal moralidade?) e até na literatura (os românticos , por exemplo, que achavam belo serem esquálidos, além de tuberculosos e boêmios-não que as academias preguem esses dois últimos- e ainda por cima bebiam vinagre de maçã para acelerar todo o processo)..em nós também ela está presente. Nós
que involuntariamente rejeitamos um corpo que não seja "fabricado" em moldes (sem defeitos de fabricação,com garantia indeterminada e manual de instruções,de preferência) - só para ratificar meu segundo argumento! - E sabem porque? Pois hoje SUPERvalorizamos a disciplina, o controle, a vaidade excessiva, a eficácia e a eficiência - qualidades indispensáveis à um empregado mais produtivo ou à um marido (ou esposa) mais "bom de cama". Nunca o ócio ou a gula foram tão pecaminosos ao serem associados erroneamente à preguiça, á inércia... Sendo que o ócio é também criativo ou "produtivo" (oops, ato falho)... e a gastronomia.. bem.. uma arte para os gourmets et gourmands.
Tsc tsc.. Shame on us! Anda-se mais preocupado com a performance ( meramente para ser mostrada, vista - aclamada!) em detrimento do verdadeiro prazer .. ou prazeres.. É isso, em minha observação, o que presenciamos hoje.

É claro que não condeno todas as acedemias de ginática e seus frequentadores, acho até uma iniciativa bacana.Eu mesma,confesso, já frequentei.E é claro que não sou assim radical diante das coisas. É só que às vezes, para ser compreendida, ou vista ( segundo ato falho, hehe)... torna-se preciso ser extremista. Ainda mais sendo assim.. tão Petite.


Estive pensando em montar uma "academia do equilíbrio" - constato que ela será tão lucrativa nas próximas décadas..

Até.




7 comentários:

Unknown disse...

Olá, Paula!
Fico no mínimo lisojeado por ter se lembrado de uma de nossas conversas e ainda por cima desenvolver um texto a respeito.

Como já era de se esperar, o texto contém uma marca sua, o brilhantismo!

Mesmo com a correria cotidiana, arrume sempre um tempo para escrever, porque é muito bom se deliciar com a sua escrita.

E convenhamos, você não merece a minha atenção e sim muito mais.
BeijoS

João Paulo disse...

Paula!

Ótimo texto! Fiz academia este semestre, mas não gosto muito. Tem de ter uma disciplina muito grande, além de muita disposição física e psicológica. Física porque não é qualquer um que consegue levantar aqueles pesos (e como você sabe, meu corpo másculo não ajuda muito), e principalmente psicológica, para aguentar as repetições, o ambiente fechado, o povo disciplinado e forte (como é foda perceber, olhando os outros, como eu sou magro e fraco), a música repetitiva.

Eu já inventei na minha cabeça um novo estilo de academia: no meio de uma mata com flores, sons da natureza, as pessoas chegam, descansam, alongam, conversam entre si, depois malham juntas - temos de inventar uns aparelhos diferentes, um faz uma coisa e o outro outra.

João Paulo disse...

Paula, que bom que você leu o meu texto da cachaça. Você sabe que, depois que eu o escrevi, pensei que você, de todos os leitores do blog, seria a que mais conseguiria me entender.

Ás vezes, a gente tem que desabafar, sabe? E eu ainda vou "me arranjar", você vai ver. ^^ O João jovem é bobão demais, mas é um sonhador também, e não vai ficar muito tempo no quarto.

Sabe que eu lembrei de um texto seu, um de seus primeiros deste blog, depois que escrevi o texto! Eu o reli e achei-o muito mais profundo que daquela vez que eu li. É sobre um "Você" que o narrador do texto espera um dia aparecer, você deve lembrar.

E concordo contigo, somos multifacetados e temos de atender a todas as nossas necessidades. Até a rainha da Inglaterra faz cocô, num é? (meu pai fala que o dela deve ser muito fedido, hehehe...)

Um enorme abraço para você! Estou com saudades, quando poderemos voltar a creche juntos?

Anônimo disse...

Apoiadissimaa, em todos os aspectos. Eu queria fazer academia proque eu me sinto uma sedentária total, mas acho que posso encontrar isso em outras coisas , mas outro sério problema meu é a diciplina, ou a falta dela. Não sinto disposição alguma de acordar cedo pra ir andar de bicicleta ou qualquer outra coisa do tipo .. ;/
heey, saudades suas ;*

Anônimo disse...

a propósitooo .. ameeeei : #
Ela também é Pequena ,é bonita e plena:de Pensamentos soltos

Chrystian disse...

ei, Stranger, eu frenquento(frequentei) uma academia para ganhar massa muscular. Academia não serve só para emagrecer ou definir o corpo.
Mas é realmente massivo.
A repetição mata.
;*

Daniel Simon disse...

Bem, acho que a lógica das academias se resume a uma palavra: hedonismo.

Como vc mesma disse, a busca pelo prazer. O prazer de um "corpo definido", mesmo que tenha alguns desprazeres antes (como passar fome)

Gostei muito desse seu lado "socióloga", a comparação com o fordismo foi muito boa.

Uma verdadeira linha de montagem, onde todos devem atender há um preciso padrão ou serão rejeitadas.

A questão das mercadorias é interessante, o que é conhecido como reificação (pessoas virando coisas), são todos pessoas-vitrines. Que passam a ostentar um padrão, pré-estabelecido por alguém. Claro, sempre visando ganhar dinheiro.

Desculpe pela viagem sociológica, ficou muito bom seu texto.