Férias parciais. Quero o meu tempo.. quero sentí-lo, percebê-lo, respeitá-lo. Quero escrever(mais), ler um livro, sair de casa, andar sem direção descobrindo as ruas como se as visse pela primeira vez em muito tempo.. quero muito tudo sem pressa e esquecer que horas são sem me preocupar. Esquecer que dia é da semana e fazer do sol o meu parâmetro...
Observo que nossos tempos andam regidos pela urgência. Essa senhora intrometida e histérica que apressa tudo em nossas vidas. Há momentos em que e presença dela até não é de todo ruim, mas em boa parte acho que ela só atrapalha. A urgência é um alarme,um despertador que rompe com o primeiro tempo íntimo de cada um, o tempo de sono.O tempo dos corpos. Até aí tudo bem, posto que impõe disciplina àqueles que por vontade própria provavelmente ficariam entregues à inércia, à preguiça, ao ócio de um leito ou de alguma outra atividade mais prazerosa que as obrigatórias por coersão.
De onde eu vejo, o problema maior é quando ela adentra outros tempos nesses nossos tempos. Há coisas que simplesmente não podem ser apressadas, a começar: o escrever, o descobrir, o conhecer, o saber, o fazer artístico, o fazer erótico...o sentir. Viver, de forma geral, não pode exigir pressa, ânsia nem exatidão temporal ou etária.(Temos um tempo comum - aquele nos nos permite conviver e respeitarmos uns aos outros e as instituições e, onde ele termina começam nossos tempos próprios - cada um tem o seu. Sintonia seria, assim, quando dois ou mais tempos próprios convergem em um só). Caso contrário um corre o risco de queimar suas etapas (motivo pelo qual sou avessa aos planos à longo prazo..com datas e idades mensuradas).
Penso muito nesse contexto, e com certo pesar, nas crianças. Talvez porque elas são mais passíveis de sofrerem influência do grupo.. de repetirem comportamentos para os quais ainda não estão prontas.
Penso também na juventude... a juventude, em qualquer tempo histórico, sempre foi marcada, entre outras coisas, pela pressa em viver. Qual é a nossa?! Sequer sabemos com exatidão aonde vamos, tampouco o caminho certo.. então,para quê tanta pressa?! É como se estivéssemos no prelúdio e a verdadeira canção só começasse aos trinta e com ânsia de chegarmos lá, apressássemos o passo e atropelássemos o compasso. É dançar uma valsa 3/4 em ritmo de rock. Para quê?! Para nos fazermos notados?
Chego, aqui, onde pretendia: associar essa pressa em viver com a necessidade incessante em se mostrar que está vivendo.. e não há maneira mais prática e paradoxal de fazê-lo do que por meio de vitrines pessoais em redes sociais.
Se é verdade que o outro é espelho de nós mesmos, confirma-se o fato de que precisamos do outro (em maior ou menor escala) para nos convençermos de nossas realidades. Aplique a isso a moralidade da urgência e voilá: chega-se à tendência da vida à mil por hora, do "vivendo intensamente"... Acontece que as mídias sociais não representam a realidade no plano real, e sim um plano paralelo.. uma realidade muitas vezes filtrada e forjada. Alí - você só expõe de você as partes que desejar. (Ninguém mostra, deliberadamente, seus defeitos, seus piores ângulos, suas fraquezas.. seria a negação do "self-promotion"!).
Sempre que eu vejo comentários e legendas de fotos nesse etilo "minha vida é uma festa", crio minhas ácidas dúvidas em tom crítico: "Será? Será mesmo que a vida desta pessoa é tão intensa, frenética e repleta?". Se fosse na intensidade e velocidade nas quais ela descreve provavelmente ela não teria o tempo de parar para fazer uma exposição daquilo, porque, justamente, estaria tomada pela intensidade louca de sua vida. É um tanto triste pensar que as pessoas estão se tornando mais interessantes em outro plano - protegidas por telas-escudos, sem se permitirem serem conhecidas de fato... até porque como é tudo muito rápido.. fica difícil acompanhar as inúmeras e constantes mudanças.
A moralidade da urgência vende, é "in".. "cool". Todo mundo quer ser comprado antes de perecer então(?). Ou melhor, ninguém quer perecer... Perecer, bilogicamente falando, é envelhecer e envelhecer definitivamente já está "out-dated". Agora isso é objeto para outro post e eu já estou embaralhando demais meus pensamentos...
5 comentários:
ah, minha linda! Tenho que partilhar essas ideias... a vida parece estar numa maratona infindável, em que não sabemos o fim, mas queremos ser os primeiros: tenho mais amigos que você (nem sempre reais, mas qualidade pra quê? Não temos tempo), twitto mais do que você, roubo frases do Pensador para parecer um culto e não mostrar que bagagem nenhuma eu tenho (mais uma vez: não tenho tempo nem disposição de pensar, pelo menos não a maioria)...
são tantas atitudes mecanizadas que quando paramos para analizar talvez tenhamos perdido muito tempo. Mas ouvi dizer uma vez que "não se pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas se pode começar agora e fazer um novo final".
UM BRINDE A UM COMEÇO DE VIDA! Porque viver, viver é delicioso e pra ser assim tem que saborear ;)
Saudades de ti. Coloquei teu texto no blog, com os devidos créditos.
Beijos :*
Que vivamos no mundo real, pois nele está a verdade/realidade em sua totalidade, independente de "mundos paralelos" (que ótima palavra para este tipo de 'vida', adotarei... xD).
"Vivemos na era da informação, mas onde ir ou o q fazer com tanta dela vindo de todos os lados e com uma velocidade grande..." foi algo que relacionei enquanto pensava sobre seu texto. Descobrir o próprio tempo é essencial, até pq cada um é cada um.
Me desculpe os estereótipos.
às vezes leio coisas por ae que discordo ou que simplesmente não me agradam, mas quando leio seus textos sinto que é uma voz dentro de mim que diz "é exatamente isso!". A sua maneira única de escrever, suas idéias, seus argumentos e sua visão de mundo me fazem ler seus textos num incessante flerte com as palavras e um leve sorriso no rosto, de esperança. Continue assim Piccolina.
Alex... isso se chama afinidade (eu acho).. daí por que somos amigos, não? Não concordamos em tudo, mas em algumas coisas e eventualmente.. nos permitimos tomar emprestados os pensamentos um do outro... como em uma troca, efetivamente. Adorei o seu "fletar com as palavras".. eu sou uma grande "flertadora de palavras". haha :D
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