26.4.11

Seria suportar sucumbir?

E então... te fizeram crer que tinha o certo e o errado? Esqueceram dos percalços? Convençeram-te a seguir aqueles caminhos? Te coibiram a ser como projetaram? E,diga-me,te deram segurança e aprovação em troca? Presentearam-te com a falsa garantia do futuro? E você,se conformou com um novo tipo de conforto?E apresentaram copanhias mudas,irretocávais? E só quando eles te viram é que você pode então existir?

E aí,te vestiram com suas marcas? E se intrometeram no repartido dos teus cabelos,nas medidas do seu corpo e te disseram que era pela sua saúde? E de repente tudo que era bom se tornou ilegal, amoral ou engordativo? Sensibilidade virou sinônimo de fraqueza? E os transparentes se tornaram otários?

Te ensinaram a repetir seus refrões,seus bordões? Repetistes? E te ensinaram a dissimular?Dissimulastes? E te obrigaram a se mostrar feliz sempre? E te redefiniram até o irredutível o conceito da palavra "sucesso"? E reconstruiram o que é a beleza e a feiúra,o amor e o ódio,o real e o ideal? Marcaram teus passos? E te negaram escolhas,estados e espírito? E te fizeram temer o não contemplado por eles? E a partir de determinado momento eles se fizeram desnecessários e quem se convençeu de tudo foi ti em tom de autojustificativa?

E você,por medo,sucumbiu a tudo isso? Por medo de sobrar? Por medo do amanhã? E você comprou essas verdades pela metade? E pagou quanto por elas? Qual foi o (teu) custo? E,sabe..o amanhã chegou. E chegou tarde,amor - a garantia expirou.

10.4.11

A Carta-decreto dos dezessete

Aos dezessete, quando eu parti, já era uma pedra pronta.. bruta ainda, mas essencialmente pronta. Aos dezessete, ao partir, fui presenteada com uma carta que resta, ainda e sempre, a minha melhor descrição. Aos dezessete, precisei estar perdida para depois me reecontrar (sempre com alguma mutação, também pudera.. a gente evolui).

Hoje, qualquer perda parcial é prerrogativa para ler novamente a carta.

"Então... Para dizer alguma coisa... Estou eu, aqui, praticamente sem palavras, numa dessas ´tardes quentes de plantão´ no Dinas. Mas, sem palavras, também nos encontramos, de diferentes maneiras, com diferentes afinidades.
Também tenho desses seus silêncios cúmplices. Também não digo se não quero, não vejo para não sofrer; para brigar conosco tem que ser insistente.
Foram muitas cenas, amiga, ... Também sumo por uns tempos, feito você, não sorrio sem motivos, não me justifico se não vale a pena. E é assim que transitamos pela vida. Não gostamos de tantas críticas, mas também não suplicamos o elogio. Desejamos assim, de graça, o que a naturalidade da vida tem para nos presentear: ao contrário do comodismo conformista, uma maturidade tranquila e (im)prudente que briga todos os dias com a ansiedade para poder existir.
Tanta identificação e carinho, P. Obrigado por essa companhia e esses abraços bobos que nos fazem rir quando nos vemos. Saudades sempre.
Com amor e carinho.
Do seu amigo,
Marcos Menezes (Baiano)"

9.4.11

Há tempo(?)

Não, não há tempo! É atempo.

3.4.11

Da intimidade (a) dois

Não é a primeira vez que desejo discorrer sobre a intimidade e deixo claro desde já que não se trata de um tratado (nunca pretendi deter nenhuma verdade que não as minhas.. nem tê-las como absolutas). Um analista provavelmente diria que eu só pude alcançar minha vontade quando (enfim) me permiti - e aos outros - ter intimidade. Quero crer, contudo, que intimidade não é planejada.. de repente nos damos conta dela..Não precisa fazer sentido para quem está fora.. nem ser bem estruturada na sua forma.. por isso, aí vai:

Há quem considere que, para um casal, o ato mais sublime da relação - o fim último - seja o sexo. É lá,no ato sexual, que os dois celam a união se tornando um. De fato, por alguns segundos de prazer extremo, são um só e tem, não nego.. muita poesia, beleza e naturalidade nisso. Ainda assim, eu discordo da proposição. O sexo é a forma mais primária, mais primata, mais natural, mais animal de intimidade. Apenas está secularizadamente coberta pelos véus do pudor e da vergonha. Gente ,em geral, tem vergonha de admitir que está tantas vezes mais próxima dos bichos que dos homens ditos civilizados. Faço a ressalva, entretanto, que não estou banalizando o sexo, tampouco a intimidade, e sim.. discordando do significado que lhe foi atribuido... e da falta (de significado) que hoje lhe é atribuída por tanta gente.

A verdade é que sinto-me muito mais nua (e inicialmente enrubecida) na verdadeira intimidade do que durante o sexo. Permitir que te conheçam é que é de fato estar despido diante o outro. Despido, desarmado, "cheio de amor" e deserto. Esta é para mim a verdadeira entrega: a autencidade a dois.

Ser você, essencialmente você, sem máscaras, sem se prestar a papéis programados para provocar agrado no outro, mas que em todo seu despojamento agradam. Isso é, para mim, a intimidade ideal. Pura assim ela é amizade última. Se a ela eventualmente se emprestam certas fantasias (as quais as partes sejam capazes e voluntárias de incorporar), ela se torna amizade em sintonia com o tesão .. possibilitando aos dois envolvidos uma relação aberta a trocas que não só afetivas.

Intimidade diz maturidade e confiança.

Confiança é essencial. Confiança é risco. Como se desarmar tanto e se abrir para o outro se não houver a mínima certeza que aquele outro ali não vai lhe machucar? Afinal ninguém gosta de se sentir vulnerável. Qual garantia se tem que não vão rir de você?Não vão lhe expor? Não vão lhe trair?Não vão lhe deixar? Essa certeza é, na maioria das vezes, deveras ideal. Não há garantia. E, mesmo havendo confiança, é impossível descartar a perda iminente - esse gatilho de adrenalina das relações passionais.O que não é de todo ruim, até porque, a iminência da perda é fundamental para a manutenção do desejo e do desejo de desejar. Também, para a manutenção de algum mistério.. do ´não saber o que se passa pela cabeça do outro´.. da imaginação.. da sedução.. da fertilidade criativa e regenerativa de uma relação. Ela bloqueia a acomodação. Acomodação não é sinônimo de segurança. Entreguemos-nos, portanto,antes por nós.

Aí entra a maturidade. O autoconhecimento necessário para reconhecer o que pertence à nos e o que é proveniente do outro. Nossas expectativas às vezes são tão altas ou ilusórias que não sabemos mais separar quem o outro é daquilo que nós projetamos que ele seja. Não podemos cobrar o que não nos foi ofertado.

Uma vez estabelecida a confiança no outro, na sua conduta e nas suas intenções os jogos se fazem desnecessários. Para a mulher, sobretudo, não é mais relevante fazer chantagens de si própria.. como se seu corpo fosse um troféu-objeto ao fim da partida. Repito ainda, o sexo não é o mais sublime do todo..(embora seja muito bom principalmente se houver significado alí).

Do conjunto homem-casa, o corpo é a parte mais externa ... logo.. não seria, assim,a porta de entrada? O que temos de mais precioso, a alma.. a essência.. está mais adentro. É claro que tem gente que tema passar da porta de entrada (dá um baita medo mesmo. Temos medo do que desconhecemos) e se contente só com a intimidade externa. É bom, claro que é! Acontece que chega um momento que não sacia aqueles que têm fome de (por) verdade. Há também quem começe a visita pelo interior e tenha medo de ir lá fora.. onde os fenômenos fogem do nosso controle.. e pertencem mais a natureza do que a qualquer código de conduta social.

Difícil não é ter intimidade.Não é dar intimidade. Difícil é conciliar suas diferentes facetas e compartilhá-las num dificílimo, dangerosíssimo exercício de intersubjetividade.