24.10.09

Mulheres mexidas

A cada notícia que leio,reportagem que assisto,caso que ouço sobre mais uma mulher nesse mundo vítima de abusos sexuais ou estupro me sinto um pouquinho violada também.Esse sentimento é natural da condição de ser mulher.Como se o criminoso estivesse ali e tivesse me tocado também com um toque impuro e imobilizador e eu,enquanto mulher e enquanto leitora me sinto impotente e omissa.Fico com nojo e raiva do mundo, que naquele momento se revela tão perverso e sujo .
Digo, nós mulheres nos sentimos assim - violadas.Não há crime mais violento e bárbaro que esse.Muito provavelmente é um dos crimes mais antigos que há e , no entanto não fazemos muito para combaté-lo.

É como um sequestro. Assalto,roubo,arrombamento deixam sequelas psicológicas sim, mas é mais fácil utilizar-se de uma "memória seletiva" para apagá-las.Serve também mudar de casa,apartamento,trocar a fechadura.Agora, no caso de um sequestro ou de um estupro torna-se infinitamente mais difícil "mudarmos de nós mesmos". A ferida é latente e a cicatriz que fica,aberta.

Pessoalmente eu acredito que o corpo é um santuário.Tanto o nosso como o "do outro".E por isso deve ser tratado e respeitado como tal de acordo com aquilo que você cultua -sabendo das consequências,claro!Eu por exemplo,pensei muitas vezes antes de fazer um simples piercing e já voltei atrás inúmeras vezes na minha implusividade em fazer uma tatuagem.Como todo mortal, não resito à certos "prazeres carnais",nem à uma dosezinha de boemia com os amigos nos fins-de-semana, mas sou sensata.Não pratico promiscuidade - também não condendo quem adere..Nem sou a favor de nada que flagele.

Agora..voltando,ponham-se no lugar de alguém que foi vítima dessa barbaridade: Como ela vai se encarar na hora de tomar banho?E de rever a família ,amigos,namorado? E se ela resolver dar queixa?E na hora do exame médico-legal?E as memórias que voltam?E na hora de sair na rua?E de sair na rua e cruzar com homens desconhecidos?E a forma como ela encara o prazer e o ato sexual?E o medo e a culpa?Culpa de quê?De possuir um corpo?De ser mulher?De simbolizar o pecado original?De despertar desejo?Desejo não, pois existe um claro limite entre desejo e peversão e doença!Esse limite chama-se respeito pautado nos direitos humanos. Será que seremos eternamente "presas" ao lar.. prisioneiras de nós mesmas no mundo e da nossa força física inferior?Ou devemos andar armadas?Adiantaria nos armar contra aqueles que já andam "naturalmente" armados ( visto que todo homem tem, de fato, uma"pistola"..ainda que entre as pernas).Acho que não, até porque nem em todas as pistolas o gatilho dispara sozinho e nem todas andam sempre calibradas - sim - os canalhas criminosos doentes perversos ainda representam uma minoria e ainda existem muitos caras gentis,bacanas e corretos por aí.

Esse "tema" me evoca sempre a imagem das mulheres no Oriente Médio . São guerreiras,exemplos de superação.Vítimas de uma sociedade onde o abuso sexual dos homens sobre suas mulheres (uma ou mais.. esposa e filhas compreendidas), sobretudo em camadas sociais mais desvavorecidas é legitimado pelo regime religioso regente.

Indignação é pouco.Apenas precisava manifestar a minha.. o quanto eu fico "mexida" com essas coisas.Enquanto isso.. pensemos em como agir.

18.10.09

O que me faz verdadeiramente amar algúem ( um homem)

Nota: Produzi este texto com inspiração do poema "As sem-razões do amor" de Drummond.



Já acreditei veementemente que o que me fazia amar um homem seria a inteligência.Divagações,elucubrações e digressões me conquistavam.Conhecimentos, fossem eles literários,matemáticos,artísticos,cinematográficos e práticos seduziam a eterna adolescente em mim.Mas percebi que não, não era isso que me fazia amar.Do que adianta um cérebro brilhante se ele não souber rir de si mesmo, se ele não souber apreciar o ócio de um sábado quente com cheiro de praia,água de coco, sorvete e pneu de bicicleta?Então resolvi: bom humor é necessário.

É maravilhoso a gente estar com alguém leve,alto astral,sorridente..que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos problemas cotidianos bobas piadas.Acontece que nem tudo é uma piada e, em certos momentos brancos, quero alguém que me conforte a alma, com um abraço quente,acolhedor e silencioso -o que já diz muito. Nessas horas nada pior do que ser levada na brincadeira.Recusa a sair da infância e alegria de viver são coisas completamente diferentes!Daí que uma certeza me invadiu o peito: sensibilidade. Era isso que,acima de tudo, me fazia amar alguém.

Mensagens de bom-dia,olhares soturnos,pequenos gestos incontidos.Entretanto, paralelamente à isso, eu preciso de alguém que brigue comigo de vez ou outra quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais ou oferecer de menos. Preciso que cuidem de mim, mas preciso também da certeza de estar com alguém com atitudes de um homem de verdade e não alguém com complexo de Peter Pan. Às vezes preciso ser tomada , domada.

Então não era e inteligência, nem bom humor, nem sensibilidade. Talvez fosse virilidade? - Mal abrir a porta de casa e ser consumida por beijos..cenas assim.. É - ser desejada com urgência (quando o desejo é também recíproco) é um dos maiores (nem tão melhores) elogios que uma mulher pode receber. Mas só ser desejada em nada adianta:quando acaba a vontade carnal, o que resta?Se o que realmente eles (tanto ela como ele) procuram é apenas "a movimentação"..aí tudo bem..(assim que inventamos "o ficar", não?).Mas se procuramos além disso e surge então a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentindo após o prazer, de nada vale.Pelo menos se não vier acompanhado de cuidado,consideração... carinho. Seria ele então a chave para despertar o meu amor?Não.. carinho é um sentimento que engloba demais.. nos surge desde a visão de um cachorrinho até a palavra confortante de um desconhecido qualquer.

Hoje,já há algum tempo, quem sabe.. cansei de tentar adivinhar.Após tantas enumerações e teses sem fundamentos se não minha própria experiência e ou observação.. restringentes e paralisadoras, descobri. O que me faz amar um homem? - É o amor existir. Simples assim.
Quando nos torna necessário justificá-lo,procurá-lo,racionalizá-lo, é sinal de que ele não está(mais),ou nunca esteve ali.


(LEIAM O TAL POEMA DO DRUMMOND - é belo!!!)