22.5.09

Enquanto a verve não volta...

Com a esperança de reencontrar minha verve perdida no tempo e em terras gálicas e de me reeencontrar em tanto a escritora que um dia supus ser,posto aqui um dos meus textos vencedores, o segundo.. o qual eu não pude "colher os louros", pois já não estava mais entre meus professores,colegas e amigos.Nada como a primeira vez...

LE WONDERFUL CIRQUE LUSO-BRASILEIRO
Respeitável público, o show vai começar!Hoje tem palhaçada?Tem sim senhor!Ontem teve também?Teve, pois bem!E o palhaço, o quê que é?É homem,luso,índio,negro,cego,criança e mulher!
La veio a corte fugidia: D.João e família, fidalgos,funcionários régios e o pessoal do porão.Arlequim,pierrôs e colombinas à francesa "pra" fazer carnaval e, vestindo fantasia, a Revolução Industrial.Sejam bem-vindos ao paradisíaco Império Colonial!
É inégavel que a chegada da corte na Baía de Guanabara tenha alterado imponentemente o roteiro, as personagens e cenários urbanos da Nação (sobremodo pelas desapropiações,construções de teatros,escolas e jardins no Rio de Janeiro - feito em um quadro de Debret). Dessa maneira , peça por peça, o Estado lusitano refloreceu nas férteis terras brasileiras.A complexa rede burocrática implantou-se à revelia da Colônia e a ela se sobrepôs como um corpo estranho (a mão e a "lusa" luva do mais puro tecido inglês), uma vez que a reestruturação do Estado fez-se em prol da empregabilidade da nobresa parasita.
Primeiro Ato: A luta da burguesia agroexportadora versus o bicho-papão da Metrópole. Foi graças à abertura dos portos que esses mesmo patriotas garantiram para si as "liberdades" de produzir,comercializar e representar-se na cena política - um liberalismo funcional e tópico. Tal comércio franqueado às nações amigas que acarretou no término do "exclusivo" não sentiu mudanças na composição da força de trabalho.Esta continuaria da economia de "plantation" , ao passo que a prática "pós-colonial" se apresentava nos salões da corte com o nome de liberal e os homens do "laissez- faire" se satisfaziam com a fria franqueza do mercado.
Segundo Ato: Aqui nossos ilustres protagonistas re-encenam a luta burguesa de ingleses e franceses, enquanto a política mantém-se inflexível aos ventos do Atlântico.Tanto foi que nossa Independência não foi um conflito interno de classes.Deus-se fundamentalmente entre os interesses dos colonos,o apoio inglês e os dúbios projetos recolonizadores de Portugal (reduzidos praticamente à impotância após 1808). Aos nossos, coube a missão de cortar o cordão umbilical, conservando as instituições monárquicas da fase inicial (antilusitana?) porém nunca as estendendo aos grupos subalternos. O liberalismo brasileiro esteve (e está) apenas à altura do contexto.Cortar o cordão umbilical pouco nos adiantou de não fora Portugal quem nos amamentou e sim, a ama Inglaterra.
Considerando que o restante da América (de Bolívar a José Maria) obteve a Independência por meio de lutas (mais ou menos) sangrentas, a presença da corte no Brasil (des)favoreceu a ruptura colonial sem grandes convulsões sociais, já que nossa "luta" foi tão somenete a apropriação de um Estado já constinuído. O povo, como o carreiro de Pedro Américo, foi um mero ex(s)pectador!
À exceção do "libertas quae sera tamem" e dos mascates baianos, o país não valoriza aquilo que tem.Recebemo-lo por sorte(?)."Ter" não "desafia o nosso peito a própria morte". Ainda assim, cantamos com atávico lirismo: glória à cachaça e ao futebol. "Glória às lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais".E, se o estudo da história é olhar o passado considerando as indagações que são postas pelo presente, vejamos o terceiro e último ato.
A pátria já é uma adolescente acordando.Filha de Portugal,por anos imperializados por ingleses, é hoje,sob certo determinismo,subordinada aos filhos deles: os norte-americanos.Sem meias e sem sapatos, a pátria equilibrista titubeia sobre seus caminhos: a começar pelo real exercício de cidadania,combatendo as contradições sociais e o desrespeito à constituição (pois sim,acreditamos no futuro da nação), seguido de uma melhor distribuição da farta arrecadação tributária,investimentos em educação e, por último,visando uma próspera política externa de exportação.Já era a hora do país deixar de atribuir aos erros dos maus brasileiros a culpa por não se sentir capaz!Por mais quanto tempo a esperança iria esperar no cais?
Senhoras, senhores, esse espetáculo chegou ao fim e digo: estará fora de cartaz.